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  • José Leonídio

UT HORAS SIC FUGIT VITA (COMO UMA HORA, A VIDA VOA)

Quando estudava no Ginásio Cavalcanti, nos idos dos anos 60 do século passado, ainda era obrigatório o ensino do latim. Lembro-me que minha professora era dona Leda. Na época era habitual, chamar as professoras de Dona, porém, os professores não, estes eram professores mesmo, de acordo com as normas daquele tempo, uma simples questão de respeito.


Dona Leda, com toda a admiração dos seus alunos, era uma professora jovem, e fazia questão que aprendêssemos o latim na sua essência, pois como língua mater nos permitiria compreender todas as que derivavam de sua raiz. Misturados às declinações, dona Leda sempre citava provérbios latinos que ficaram gravados na memória do tempo e, por mais que dissessem que a língua latina era uma língua morta, na verdade era a origem de todas as outras.


Até hoje, me lembro de Dona Leda, de seus provérbios latinos e não sei porque meu arquivo de memórias me fez recuperar este: Ut horas sic fugit vita, que na sua tradução, ao pé da letra, significa: “como uma hora, a vida voa”. Vida, quatro letras, muitos significados.

A vida começa num choro, numa apreensão de um choro. Abrimos os olhos ao nascer, a luz nos ilumina e enxergamos pela primeira vez. Em seguida nos sentimos inseguros, quem somos nós? A resposta vem quando sentimos o cheiro, o gosto, o calor, e ouvimos a voz de nossa mãe. “Como uma hora, a vida voa”, assim diz o provérbio, assim somos nós, vivemos minuto a minuto. Em uma hora tudo pode mudar, podemos passar da noite para o dia, da alegria plena para a tristeza total.

A vida é como um Pégaso, um cavalo alado que tem asas. Ela pode ao mesmo tempo nos mostrar a face de uma moeda e, em seguida, nos mostrar a outra, aquela que não queríamos e não gostaríamos de ver. A vida é uma estrada que tem início, porém sem meio e sem fim, porque, ao contrário de tudo da vida, não é programável, “como uma hora, a vida voa”.

Em menos de um segundo podemos ultrapassar a barreira do imaginável e sairmos da figura principal para a do coadjuvante. O filme da vida nos mostra todas suas faces, a boa, a ruim, e a que nunca gostaríamos de assistir. A vida é o dia a dia, o que sentimos, o que vivemos, o que nos doamos, o que nos entregamos, o que convivemos, o que amamos, nem que seja por segundos, minutos, horas, não importa, o que importa é vivê-la com toda a intensidade.

Viver é amar a vida, em todas as suas nuances, em todas as suas circunstâncias, viver é trocar o medo pela certeza de que naquela hora a vida lhe convida a viver. Viver é viver o momento, sem angústias, porque o minuto que passou é o minuto que passou, e o minuto por vir pode, independentemente de qualquer coisa, nos presenteia com a joia mais cara que a vida poderia nos dar, viver a vida, sem amarras, sem grilhões, porque somos livres para viver o EU, ou seja, nossa vida; o TU é um problema que ele há de resolver.

Como dizia Dona Ieda, ut horas sic fugit vita, traduzindo para o bom português, uma hora, a vida voa.

Lembro-me de suas palavras:

- O dia de amanhã, a ninguém pertence, só ao destino. Viva o de hoje como se fosse o último, o de amanhã é um presente que lhe foi concedido, usufrua-o até a derradeira gota, porque o amanhã poderá lhe reservar surpresas, viver o dia a dia lhe leva ao longe, o contrário, não sabemos.


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