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  • José Leonídio

“TER OU NÃO TER, EIS A QUESTÃO”


Enquanto penso, o vento zune na minha janela mostrando que um temporal se avizinha. O outono é assim, inconstante, nos preparando para o tempo de hibernação, o inverno. Parece que foi ontem que em pleno verão carioca, em tempos de carnaval, notícias vindas da fria Europa diziam que um grande mal estava por vir, em breve atravessaria os mares, o ar, e chegaria até nós, seu nome Covid-19.


Como informado, não tardou em chegar e nossa última alegria coletiva, as festividades do Rei Momo, encerraram nosso período de convivências sociais. Em nome de controlar um mal que não sabíamos como lidar, nos isolamos, nos tornamos seres antissociais, afinal esta era a única forma de evitarmos seu contágio.


Aqui começou a grande contenda “TER OU NÃO TER, EIS A QUESTÃO”. Os grandes centros científicos mundiais se movimentaram rapidamente à procura de uma vacina para ser usada amplamente, com objetivo de imunizar a maioria da população mundial, evitando desta forma uma morbidade e mortalidade semelhante à de 1918, com a Gripe Espanhola.


Contrapondo-se a todas as evidências trazidas, a discussão pelos especialistas mundiais, uma outra corrente, ligada não à política voltada para a saúde e sim para a manutenção da produção, ou seja, a importância da presença dos trabalhadores nas frentes de produção, para não permitir a queda na arrecadação. Naquele momento, o mais importante era fortalecer o desenvolvimento econômico, sendo o capital sua mola propulsora.


Milagres foram oferecidos, nas redes sociais, televisões, rádios, enfim por todos os meios de comunicação. Tratamentos precoces que impediriam a evolução do vírus. Águas ungidas pela fé, vassouras milagrosas que varreriam de sua casa o mal do século XXI. Tudo isso em nome de uma imunização de rebanho, ou seja, a maioria da população contrairia e ficaria livre para sempre da moléstia.


Aqui inicia-se o primeiro embate, porque a imunização de rebanho está associada a imunização através de vacina e não por adquirir imunidade ao contrair a Covid-19. Podemos aqui citar um exemplo: nenhum criador de gado, seja leiteiro ou de corte, deixa de vacinar todos os seus animais contra a febre aftosa porque os compradores, principalmente de outros países, por questões sanitárias, exigem os comprovantes. Então nesta hora, o capital fala mais alto, a imunidade de rebanho tem que se fazer presente para que seus lucros estejam garantidos.


Nenhum de nós deixa de vacinar seus animais domésticos contra as diversas doenças, este é um outro exemplo. Quando trazemos a questão para o ser humano, a visão então passa a ser diferente. Não existe imunização de rebanho sem vacina. Passou o verão, inverno, a primavera, voltamos ao verão, entramos no outono, estamos chegando a um novo inverno e a discussão continua, “TER OU NÃO TER, EIS A QUESTÃO.”


Enquanto muitos ainda aguardam que Deus seja piedoso e nos livre da pandemia, um grupo maior vê a figura de Deus como a de um conciliador, porém não há como conciliar quando és a causa do conflito e não admites que te falem o contrário. Saúde e capital são polos opostos, eles podem até se complementar, mas é necessário que o capital entenda que sem a saúde não existe renda, sem renda é a falência do capital.


Aqueles que negam a si mesmo, à sua família, a seus amigos, a sociedade, a eficácia das vacinas, deveriam por questão de respeito aos seus princípios também não imunizarem seus rebanhos, seus animais domésticos. Aqui a coerência não existe, o capital gerado por sua criação depende integralmente da saúde plena de seus animais.


Somos um dos maiores produtores de imunizantes para animais, porém, não temos a mesma eficiência quando se trata de imunizar seus semelhantes. A boiada passa, mas o ser humano vai ficando nas covas frias com sete palmos de altura. “TER OU NÃO TER, EIS A QUESTÃO”.

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