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  • José Leonídio

SOB AS MÁSCARA

Originalmente em joseleonidio.com.br


O que existe sob as máscaras são alegria, o sorriso, a tristeza. Um tanto quanto difícil de explicar. As máscaras são o símbolo do carnaval de Veneza, onde sob elas se todas as classes sociais se reuniam alegremente.


Nos antigos filmes de faroeste os bandidos tapavam seus rostos para praticarem assaltos. Quantos as usaram para se ocultar de alguma coisa ou de alguém? Máscaras de flandres, por exemplo, eram a bola da vez para quem queria impedir alguém de falar ou se alimentar.


Uma das máscaras mais significativas são as chamadas médicos da peste, muito usada no Carnaval de Veneza, que tem sua origem na época medieval. O formato em bico de pássaro era usado não para diversão, mas pelos médicos que lidavam com doentes e as denominadas pestes; seu formato tinha a finalidade de os protegerem e evitar que se contaminassem.


Máscaras são capazes de cobrir nossos rostos, de ocultar nosso sorriso, mas não conseguem esconder o sentimento que emerge de nossos olhos. Neles ficam explícitos a alegria ou a tristeza.


Bailes de máscaras, alegria dos salões. Quantos se escondem dentro de suas casas com medo dos mascarados no Carnaval? Caveiras, bate-bolas, diabos, fantasmas e outros são o terror de muitas crianças, mas também de muitos adultos que os imaginam verdadeiros.


Quantas vezes na nossa infância brincamos, usando-as para nos fazermos de mocinhos ou bandidos? E ali, na nossa inocência, nos divertíamos. Usávamos o que tínhamos para fazê-las, e não raro dormíamos com elas. Era nosso prazer acordar e assustar nossos pais e avós. Pegar nosso cavalinho feito de cabo de vassoura e sair atrás do bandido quintal afora...


Véus cobriam os rostos das mulheres em suas práticas religiosas, porém não vedavam seus olhos, que a tudo viam e através deles diziam o que queriam.


Máscaras de pano, de papel, de gesso, papel marchê. Convivemos durante muito tempo com todos os tipos, e sempre por trás um sentimento, na maioria das vezes de alegria. Lembranças que ficarão gravadas na nossa memória. O tempo passou e nós, que achávamos graça de ver os orientais usando máscaras para não contrair viroses, estamos sendo obrigados a aprender a conviver com elas. Deixaram de ser na sua grande maioria componentes lúdicos e são parte do nosso arsenal de proteção contra a Covid-19.


Por sob as máscaras na atualidade os olhares não mostram o brilho da satisfação, da alegria, pelo contrário, o que vemos é junto ao olhar de tristeza a lágrima que molha as máscaras, pela incerteza da volta do ente querido, ou mesmo pelo luto.


Nossos rostos escondidos por elas perderam sua expressão. Somos hoje olhares perdidos num horizonte distante, à espera da salvação, do milagre mesmo, mas não vem do céu, porque a força que irá produzi-lo é comandada por nós mesmos, pobres mortais.


Enquanto não nos conscientizarmos da gravidade ao nosso redor, as ondas se repetirão. Por sob as máscaras existem pessoas, e elas perderam a sua ludicidade, viraram companheiras inseparáveis no dia a dia, junto com o álcool gel, a água e o sabão.


Se na época medieval as máscaras com seus longos bicos de pássaro, denominadas de médicos da peste, e que protegiam aqueles profissionais evitando que se contaminassem. Hoje voltamos no tempo, nossas máscaras não têm bico, têm, no entanto, o mesmo objetivo, de proteção: seja a nós mesmos ou evitando que sejamos agentes de transmissão.


Por sob as máscaras nossos olhares de angústia, esperando que um dia possamos voltar a usá-las no seu melhor complemento, a alegria de estar vivo.



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