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  • José Leonídio

SER CARIOCA

O Ser Carioca!

Quem é, de onde veio, por que continua entre nós? A história transpassa a chegada de todas as naus que por aqui estiveram. Ela não tem início, porque seu começo não tem limites precisos, o SER CARIOCA é muito mais antigo do que o termo que o define.

Por aqui passaram fenícios, egípcios, templários, chineses e por fim espanhóis e portugueses. Estes últimos, numa disputa por novos continentes, se intitulavam os donos das regiões descobertas. Estas terras nunca tiveram donos, seus habitantes muito menos e, talvez, desta maneira tenha nascida a verdadeira versão do SER CARIOCA, aqueles que nasceram nas terras sagradas de IARA e de TUPÃ.

Aqui viviam os Tapuias, ou seja, os mais antigos na versão Tupi, designados mais tarde como Tamoios, responsáveis por guardar os segredos da natureza, da sua cultura, dos seus deuses Iara e Tupã, que desciam das montanhas para participar das comemorações do espírito sagrado que vivia dentro o ibirapitanga,[1] o “Ê Brasil,”.

O SER CARIOCA, os filhos do Rio que formavam o mar (para em Tupi), cuja nascente saía do ponto mais alto de Guana (o seio de Iara). Cariocas que viviam no entorno da “GUANA PARA”, o mar formado pela linfa que escorria do seio de Iara.

Antes do seu encontro com o mar o Rio Carioca se desdobrava em dois leitos terminados num delta, albergando entre suas duas margens uma ilha fluvial[2], onde ficava a maior e mais poderosa aldeia, Uruçumirim, que em tupi corresponde aos filhos da abelha feroz, mas que podemos fazer a correspondência como os filhos de Iara, que a protegem com sua própria vida, pois habitavam as terras envolvidas por suas águas.

Talvez o SER CARIOCA nunca tenha deixado de existir, porque lutou até seu extermínio total, por sua história, suas memórias, por seus deuses.

Contam que na grande batalha entre Estácio de Sá, tendo ao seu lado o padre Anchieta e o grande Tuchaua Aimbirê, comandando os guerreiros de Uruçumirim, a esquadra portuguesa durante três dias e três noites bombardeou a aldeia e, mesmo assim, houve intensa resistência por parte dos nativos. Ao final, no corpo a corpo entre os traidores das nações nativas, os Teminós, comandados por Araribóia e a tropa portuguesa e os guerreiros Tupinambás, coube a Estácio de Sá atingir mortalmente o grande amor de Aimbirê, Iguaçu.

De acordo com os relatos da época, Aimbirê ao ver sua amada ferida mortalmente, flechou Estácio de Sá no rosto e pegou Iguaçu ao colo e adentrou pela Baía de Guanabara indo morar no mar formado pelo seio de Iara. Ainda segundo os escritos dos historiadores, pela manhã, os corpos de Aimbirê e Iguaçu foram encontrados abraçados na praia ao lado do delta do Carioca, cabendo ao padre Anchieta mandá-los enterrar profundamente nas areias para que nunca mais os atormentassem.

Anchieta, ao fim da batalha, declarou que São Sebastião estava comandando as igaras que deram a vitória aos portugueses. Para alguns, Anchieta se baseou na vitória da batalha de Ourique, quando Dom Afonso Henrique disse ter tido uma visão de Jesus Cristo, garantindo-lhe a vitória em cima dos mouros.

Após uma agonia de quase um mês ocorreu a morte de Estácio de Sá. Fundou-se então em 1o de março a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Ao contrário do que nos foi contado, foi somente uma aldeia a de Uruçumirim que foi arrasada, milhares de CARIOCAS, ou seja, de Tupinambás, continuaram defendendo o legado de Aimbirê e Iguaçu e transmitindo aos que aqui chegavam, nossos irmãos africanos escravizados, aos degredados, ciganos, mouros e judeus o espírito do SER CARIOCA.

Quando resgatamos a versão nativa, queremos mostrar que existe um outro lado da história, não na versão dos invasores, dos portugueses que se intitularam como donos da terra com aval da igreja, e sim o da sua defesa como terra livre, feita pelos Tupinambás. A falácia da presença francesa é uma desculpa para um domínio que de acordo com as palavras do Padre Anchieta em Iperiog:

“Se vocês não se submeterem à Cruz, o serão ao fio da espada.”

Neste 1o de março, a maior homenagem que poderia ser feita ao SER CARIOCA seria às nossas origens, à LIBERDADE, IGUALDADE e FRATERNIDADE, lema dos Tupinambás, à sua alegria, aos seus cânticos, à sua dança, sua coragem, à resistência as suas origens, imortalizando-os.

Erguer uma estátua aos verdadeiros heróis CARIOCAS, os Tupinambás na figura do amor eterno de AIMBIRÊ e IGUAÇÚ, ali onde moram eternamente nas margens da Baía de Guanabara, no encontro do Rio Carioca com o mar: é o mínimo que se pode fazer para o resgate da história na versão nativa, dos bravos Tupinambás, a origem do SER CARIOCA.

[1] Ibirapitanga- Pau Brasil - Paubrasilia echinata. [2] Urçumirim – A ilha fluvial que não mais existe, ficava entre a Rua do Catete e a Rua Barão do Flamengo. Hoje é onde se situa o Outeiro da Glória.


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