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  • José Leonídio

SABER LER OU LER PARA SABER

Era voz corrente nos séculos XVIII e XIX: as meninas deviam aprender as letras e fazer contas para que pudessem ler as receitas e os catálogos de moda, receber e pagar. Não havia outras serventias para quem passava a vida toda entre oratório, camarinha e cozinha. A leitura era reservada aos fidalgos e a aristocracia, o poder, mantinha-se informada através da leitura.


O poviléu ou a povasca recebia as mesmas informações, porém, filtradas e contadas no púlpito das igrejas, como uma prestação de serviços dos religiosos em troca de seus óbolos. Assim os mantinham informados sobre o que acontecia na província, no reino e em outros países.


Com o passar dos séculos a alfabetização tornou-se plural, um direito de todos os cidadãos. Ler e escrever, fazer contas tornaram-se obrigatórios, todos tinham que SABER LER E FAZER CONTAS para que formalmente estivessem inseridos na sociedade; era condição sine qua non, então, para alcançar objetivos.

Aqui então começamos a nos deparar com um questionamento:


- Por que saber ler?


Para ter acesso às informações; desfrutar de uma leitura; entender as legendas de um filme, afinal o mundo das letras que formam palavras representa, ou não, o que falamos?


Este pensamento é de uma simplicidade que não se coaduna com a proposta do SABER LER, esta é muito mais profunda e aqui eu inverteria as palavras afirmando que muito mais importante do que SABER LER é LER PARA SABER, ou seja, mergulhar num mundo novo, de conteúdo mágico, uno, que seja só seu.


Por mais que queiramos ler uma obra, nunca a faremos igual a quem já leu, nossas retinas são capazes de enxergar as letras, as palavras, no entanto, nosso cérebro as decodifica de acordo com as nossas experiências. A digital da leitura e só sua.


O SABER, a partir do momento que aprendemos a ler, passou a ser universal. Tomemos por exemplo uma pessoa humilde que ache um livro de física quântica.


Ele se empolga tanto com a leitura e seu conteúdo que começa a frequentar bibliotecas para se aprofundar na temática e passa a ser um profundo conhecedor daquela matéria.


Estamos falando de uma pessoa sem muito estudo, mas que mergulhou naquele universo e aplicou ali não o ensinamento que lhe foi dado inicialmente. SABER LER foi além, passou a LER PARA SABER e tornou-se outra pessoa, o conhecimento lhe abriu o desejo de se aprofundar cada vez mais.


A leitura é uma ferramenta de crescimento, de criarmos nossos próprios valores.


O simplesmente ler, ou como dito no jargão popular, “dar uma passada d’olhos”, é ver as nuvens passar à sua frente sem que você se fixe em nenhuma. Daqui a pouco não se lembrará mais da forma, do seu conteúdo.


Ao contrário, quando se desfruta da leitura, tendo como fulcro principal o conteúdo, O LER PARA SABER será guardado com todo o enredo, de toda a trama, dos valores que estão ali inseridos. A consequência será seu crescimento, o entendimento dos porquês numa ótica que é só sua. Não precisarás que ninguém te explique, porque neste momento você descobrirá esse mundo que é só seu.


Nos dias de hoje o saber fazer contas pode até ser substituído por máquinas fantásticas que tudo sabem de números e como analisá-los. Falta às máquinas o discernimento da interpretação individual do LER PARA SABER, elas até te darão uma interpretação de acordo com quem as programou, num olhar frio, como fria são as salas onde estão localizadas.


O LER PARA SABER tem como seu primeiro degrau o SABER LER e abre as portas para subirmos as escadas do conhecimento. Quem nos permite ultrapassar a barreira do desconhecimento, degrau a degrau, cada vez mais é o LER PARA SABER.


Nunca alcançaremos o topo da escada do SABER, pois este evolui na razão direta do entendimento das novas gerações, ancoradas na herança de conhecimentos e que será o nosso legado para o futuro.

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