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José Leonídio

PORTA RETRATOS

Os dias são como porta retratos: em princípio vazios, nós é que colocamos neles as imagens que a vida fotografa. Belos dias, belos retratos emoldurados. Uma recordação de um dia inesquecível para sempre. Saber esperar é o primeiro passo para a conquista, um retrato para ficar nas molduras da vida.


Sequenciais, sol e lua se alternam, encontrando-se no horizonte distante, mas fomos nós que os colocamos dentro de padrões que lhes dessem limites. Criamos as horas, os dias, meses e anos como unidades de referência. Esses enquadramentos servem muito mais a nós do que a natureza.


Definimos nossos momentos de acordo com regras pré-estabelecidas, preenchemos o espaço de tempo de acordo com o nosso determinismo, temos atividades diurnas e noturnas, laborais ou de lazer. A continuidade da vida se dá com as tintas e as cores com que vamos preenchê-las.


Marcamos num calendário datas importantes para nós, num futuro distante, quando realizaremos projetos importantes, conquista ou mesmo férias. Dentro de nossa imaginação, essa data custará a chegar. No entanto, quando damos conta o que projetamos está logo ali, ao nosso lado, batendo na nossa porta do tempo.


É difícil compreendermos que o tempo é imutável, somos nós com nossas ocupações que o fazemos ser mais lento ou mais rápido. É comum ouvirmos que os dias são mais lentos nas cidades pequenas, e nas grandes metrópoles parece que o relógio está acelerado.


O que não levamos em consideração é o fato de que nas grandes cidades nossas obrigações são mais amiúde, uma atividade se sobrepõe à outra, e quando damos conta o dia se foi, a noite chega, e nossa impressão é exatamente de seu encurtamento. Dormimos mais tarde, acordamos mais cedo.


A expressão “nem vi o tempo passar” passa então a ser dominante. Parece que foi ontem, a semana mal começou e já estamos no final. Como se fosse uma fita dos antigos filmes, quadro a quadro, vão sendo registrados, minuto a minuto, hora a hora e assim sucessivamente vamos preenchendo nossos porta retratos da vida.


As imagens emolduradas farão parte da nossa pinacoteca, das recordações que

vamos acumulando na vida.


Dias bons gerarão retratos que ficarão nos locais mais visíveis, dias ruins irão para os porões da nossa memória. A convivência diária é um dos melhores exercícios para praticarmos a democracia plena, para nos ajustarmos às necessidades, ao respeito. Essas atitudes ficarão gravadas para sempre.


Nos nossos porta retratos cabem todas as imagens, porém selecionamos as que nos tocam mais e que não necessariamente será a mesma de quem está ao seu lado. Nosso livre arbítrio permite que selecionemos o que é mais importante dentro dos valores que fomos acumulando no passar dos dias, das semanas, dos anos.


Em determinadas ocasiões lançamos mão dos retratos que ficaram registrados para emitirmos opiniões e conceitos, o que não agradará a todos, mas essa é a prática mais saudável; as opiniões contrárias permitem análise de valores e daí fortalecemos nossos conceitos ou mesmo revemos.


Volto ao início da nossa prosa, os dias são como porta retratos, no princípio vazios. Somos nós quem colocamos neles as imagens que a vida fotografa. Belos dias, belos retratos emoldurados, entretanto, as lentes que utilizamos nem sempre registrarão somente as belas, às vezes ficam embaçadas, registram momentos que gostaríamos de esquecer. A estrada da vida nos ensina que nem sempre teremos as melhores fotografias, mas seu conjunto é que nos fará crescer.


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