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  • José Leonídio

PERDOEM-ME PELA SESSÃO NOSTALGIA

Creio que era outono de 1957. Vínhamos eu com meu irmão, Leonir, e minha irmã,

Leonira, do cinema Marabá em frente à estação de Cavalcante depois de assistirmos "A Branca de Neve e os Sete Anões". Ao chegarmos em casa e comentarmos com meu pai sobre o filme ele secamente falou:

─ Não é a minha, não é a minha!

Creio, uns dez anos depois, perguntei a ele porque tinha me dado aquela resposta que nunca consegui entender. Claro e objetivo, falou:

─ Só quis te dizer na época que a minha interpretação era devido a minha leitura e a minha imaginação. Por isso, criei a minha Branca de Neve e os Sete Anões. Você nunca mais vai apagar da sua mente o que quiseram que você acreditasse. Nunca criarás uma imagem que não seja aquela que te permitiram ver.

Talvez este seja um dos maiores ensinamentos que tive na vida, poder criar meus próprios valores. Lembro-me também que numa determinada ocasião na Ilha do Governador, se não me engano na Praia das Flechas, ponto final do ônibus Madureira - Ilha do Governador, a família toda reunida na praia, eu escorreguei na pedra que meu pai dissera que era perigosa por ser cheia de limo; quando dei por mim desconhecidos me deram a mão e me safei, com meu pai me olhando à meia distância. Algum tempo depois, ao questioná-lo sobre porque não me acudiu:

─ Havia pessoas do seu lado que lhe acolheriam e te tirariam do risco. Só desta maneira você cresceria e conseguiria encontrar seus próprios caminhos, de como se livrar dos riscos. Eu te avisei, ma você não acreditou. Então, foi preciso que passasse por ele para que criasse o seu conceito de risco.

Daquele dia em diante comecei a ver a vida de um ângulo diferente: nem sempre que somos colocados em situações que não projetamos para nós, são contrárias aos nossos objetivos. Às vezes as pessoas que estão ao nosso lado nos colocam em circunstâncias que a nós parecem ser abusivas, invasivas, sem razão de ser, porém quem está junto de nós está simplesmente nos dando a oportunidade de sermos nós mesmos, de mostrarmos o quanto somos capazes e não temos a coragem de admitir, talvez estejam nos dando o 1º, 2º, 3º degrau de nossas vidas, e por termos os antolhos da adolescência, não percebemos que este é o gatilho para deflagrarmos o que sempre almejamos.


Quando se é jovem nossos olhos só conseguem enxergar a flor da semente que plantamos, só que na terra que a plantamos também têm outras sementes que darão flores tão lindas como a que plantamos e que, se não formos egoístas, nos permitirão ter um jardim com flores tão belas quantos as que plantamos e que comporão o nosso jardim da vida.


Nunca despreze as sementes plantadas no seu jardim pelos que te amam, ela te farão crescer e te mostrarão que a existência é um belo mosaico e que cada um que está ao seu lado te ajuda a construí-lo sem outros objetivos ou outras intenções só de compartilhar o que de belo existe nessa nossa pequena passagem por esta estrada, chamada vida.

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