Quantas e quantas vezes estamos caminhando na areia da praia e ao nosso lado, ao nos acompanhar, a marca de pés que fizeram o mesmo trajeto, porém, são incógnitos. Não temos a mínima noção a quem pertence. Se nos fixarmos neles, podemos até ter alguma informação, comi se a mesma é de uma criança, se de um adulto, entretanto, mais do que isso, é impossível.
Nossa imaginação perde-se na imensidão da areia até um momento em que as pegadas desaparecem quem as deixou apagou-as, entrando na água ou saindo da praia. Nós continuamos a caminhar, a deixar para trás as nossas impressões plantares, que servirão também de curiosidade para quem for vê-las mais tarde.
As estradas da vida não são feitas de areia, porém vamos deixando nossas pegadas a cada situação vivida e, assim como na praia, muitos que a verão a interpretarão de acordo com o seu momento, com o seu olhar.
Nas dinâmicas que aplicava para grupos de adolescentes, uma das que mais me agradavam era a de ler uma pequena história sobre um personagem para um componente do grupo, selecionado aleatoriamente. Ao término da leitura eu pedia que o mesmo, selecionasse um colega e contasse a história, e que este contasse para outro e, assim, sucessivamente até todos tomarem conhecimento da história transmitida oralmente.
O resultado era impressionante, porque a cada relato a história ia saindo do contexto inicial e ao chegar ao último componente do grupo, a mesma não tinha nada a ver com o que fora lido inicialmente, muitas vezes era o inverso, com personagens criados segundo a imaginação de quem contava.
Depois que todos davam sua versão, eu lia o texto original e mostrava como os fatos que se passam no nosso dia a dia são interpretados de várias formas, fugindo na sua grande maioria do contexto que o gerou. A perplexidade era geral e todos concluíam que não devíamos tirar impressões precipitadas, sem que tivéssemos conhecimento do que o gerou, era uma forma de evitar atritos ou mesmo conflitos, baseados em relatos infundados.
No cotidiano, somos bombardeados por uma miríade de informações que a semelhança do resultado da dinâmica de grupo, são interpretações de interpretações derivadas de um sem número delas. Em quem acreditar? Temos que ter em mente o contexto inicial do fato exposto. O que o motivou? O porquê da reação? Quem está nos relatando? Qual sua ligação com aquele determinado assunto o com os seus atores?
Se assim não procedermos é semelhante aos passos anônimos na praia, sabemos que existem as pegadas estão ali ao nosso lado, mas não sabemos nada de quem as deixou, a não ser informações vagas deixadas por elas.
Hoje no mundo da internet, das redes sociais, as notícias voam e em segundos encontramos os que são a favor, os que são contrários e simplesmente os repassadores de ocorrências, sem que ao menos tenha parado para analisá-lo.
Redes sociais com limites de caracteres favorecem a omissão e a distorção, porque as mensagens passam a ser telegráficas, nas quais as virgulas, os pontos e pontos e vírgulas, as exclamações e as interrogações são suprimidas e o contexto passa a ser quase constituído por uma frase só, que por vezes a leitura nos tira até o fôlego.
Vivemos num momento onde as mensagens quase sempre cifradas pelas abreviaturas das palavras predominam sobre a comunicação oral e, mesmo quando esta é feita, é gravada em tempo muito curto e quase sempre a resposta vem num emoji de alegria, tristeza...
Caminhamos por areias cheias de pegadas, sem que ao menos saibamos que as deixou. Nos resta tentar encontrar dentro delas a razão de estarem ali. Dar opinião sem conhecimento de causa, pode nos colocar numa situação complicada. É importante analisar, avaliar, ver as fontes, suas origens para só então emitirmos ou não nossa opinião. Que nossas pegadas sejam conscientes, pisando em areias firmes, que as marés não consigam apagá-las.
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