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  • José Leonídio

O SOM DO SURDO



Não existe um som que mexa mais conosco do que o som grave e abafado do SURDO. Quando toca ao longe, nos remete a não sei o quê? A não sei onde?


Quando começamos a analisar os diversos sons que compõem a bateria de um bloco, de uma escola de samba, o SURDO é o primeiro que chega até nós e que, imediatamente, nos remete a memórias que não sabemos de onde vêm. Quando passamos a analisar suas batidas, seu “Tum”, “Tá”, ativamos nossas memórias remotas que nos levam para a nossa primeira morada, transitória com certeza, que nos trouxe do mundo imaginário de nossa mãe (o pai, não é necessariamente inclusivo, melhor que o seja) ao mundo real, onde as ondas emitidas de nossos vagidos (choro do recém-nascido) ao nascer se afastam daquele que levamos meses a escutar. Esta é nossa memória remota, o som do Surdo, ou seja, o som do “Tum”, “Tá” do coração de nossas mães.


Quando ouvimos o som do Surdo, este imediatamente nos remete a nossa primeira morada, onde a canção que ouvíamos era simplesmente do som doce do Surdo de nossas mães, o “Tum” “Tá”, às vezes bem lento, nos dando a tranquilidade do sono perfeito, às vezes acelerado e mostrando que a vida tem um acelerador, e que, por outras vezes, passa da velocidade permitida.


Fomos forjados ouvindo estes sons, e quando estamos frente a um som emitido de um instrumento oco, semelhante ao que ouvíamos na nossa primeira morada, o “útero de nossas mães”, estes nos remetem a memórias que não sabemos que temos, e a um amor que é indissociável mãe-filho. O Surdo é tudo isto, é nossa comunicação com o criador, não importa o nome que se lhe dê. Negar o som do Surdo, o som do ritmo do Surdo é negar sua própria existência. Dizem os antigos que o som do repinique na introdução da bateria de uma escola de samba, bloco ou seja lá o que for, nada mais é do que, uma saudação aos nossos ancestrais, nossos pais astrais, e o Surdo é a saudação à aquela que nos permitiu estar escrevendo neste momento.


Saudamos o SURDO porque estamos saudando nossa própria existência, a nossa MÃE que nos albergou e que nos permitiu ouvir o seu amor em forma de SURDO.

Um bom CARNAVAL a todos e que o SURDO, que os embalou ainda no seu projeto de vida, os abençoe.

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