A energia transmitida no olhar mostra-nos o que vai dentro de quem enxerga. Para cada sentimento, um olhar diferente, com mais ou menos sentimento. Nestes tempos de pandemia, nos quais a expressão facial, por questões de proteção, fica escondida atrás de máscaras, os olhos nos mostram o que se passa naquele momento. Sentimentos diferentes, olhares distintos. Convivemos com o viço na alegria, a ausência de brilho na tristeza, o olhar fixo na distância ou na ausência de perspectivas.
Uma das características dos hominídeos e dos macacos[1] é a do olhar frontal. Na maioria das espécies animais a localização dos olhos e da lateral lhes dá amplitude de visão importante para manutenção da espécie e também na caça.
A mudança do posicionamento nos hominídeos está associada à necessidade do olhar em frente, inicialmente para própria proteção para alcançar os galhos que estavam na frente deles.
A espécie humana foi se diferenciando das outras do grupo dos hominídeos pelo surgimento da área da inteligência, a córtex frontal. Com a evolução, ela foi aumentando e chegou às características do que somos hoje, homo sapiens. Nas demais espécies, o olhar evidenciam o que sentem naquele momento, vejam, por exemplo, uma fêmea amamentando, que ao ver o perigo para sua cria, sai do olhar de passividade para outro de total agressividade em questão de segundos.
Nossa evolução nos permitiu aprender a falar com o olhar, a demonstrar o que vai dentro de nós. Leonardo da Vinci afirmava que:
“Os olhos são a janela da alma, o espelho do mundo”.
Quando dentro do útero de nossa mãe a ausência de luz nos impedia de enxergar nosso entorno, quando nascemos e o primeiro raio de luz adentrou nossa retina, tivemos a primeira experiência do que representava o olhar. Com ele, vimos, pela primeira vez, o rosto daquela que conversava conosco durante todo o período em que nos albergou.
Quem nunca se sentiu incomodado com o olhar fixo de um recém-nascido e se perguntou:
- O que será que ele está pensando?
Talvez nada, só esteja comtemplando novas imagens que surgem na frente dele. O brilho do olhar de uma criança, na sua pureza de sentimentos, remete-nos a também querer ser criança de novo. Os olhares, as experiências de vida vão fazendo com que passemos a associar ao nosso olhar os diversos sentimentos que vão dentro de nós.
Quantas vezes escutamos que nossos pais falam com o olhar ou como sabemos que, com quem estamos falando, não nos ouve, pois, está com olhar distante, ou o lateraliza como se quisesse sair ou não estar ali naquele momento? O olhar baço, pelo peso dos anos vividos; o cintilante, que parece jorrar estrelas nas alegrias das conquistas e principalmente do amor correspondido; o olhar da perda tão presente nos dias de hoje.
Porém, o olhar é muito mais, porque é através dele que as informações entram dentro de nós na velocidade da luz. Uma fábula contada, nós imaginamos os cenários, os participantes, os diálogos. A mesma história enviada para nosso cérebro através de imagens elaboradas por um cineasta que, por exemplo, trará sua interpretação sobre a mesma e nunca mais sairá de dentro de você.
Ninguém precisa dizer o que está sentindo ou passando, o olhar demonstra. Você pode ocultar tudo de todos, menos da verdade de seu olhar. Nele, há a confissão de seus sentimentos. A posição central dos nossos olhos nos faz enxergar o que está na nossa frente, mas nosso cérebro tem o poder de enxergar numa amplitude maior, de detectar perigos, nos proteger e, o mais importante, a capacidade de interpretar os outros olhares.
Não foi à toa que adquirimos o poder do olhar frontal, de ver o que está na nossa frente. Desta forma, temos a visão do que está por vir, porém, muito antes do que imaginamos, nosso “anjo da guarda” decodificou a informação e tem a resposta de que precisamos, nós é que, muitas vezes, nos deixamos levar e damos mais importância às respostas que vêm de fora. Valorize seu olhar, valorize você, porque tens o PODER NO OLHAR.
[1] Hominídeos – humanos, gorilas, chimpanzés e orangotangos. Sua diferença dos macacos é pela persistência de um quinto membro preênsil, o rabo, inexistente nos hominídeos.
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