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  • José Leonídio

O PODER DO MITO

O PODER DO MITO

Joseph Campbell é um dos meus autores preferidos. Sua formação eclética, vivenciando culturas diferentes e interagindo com profissionais das diversas áreas ligadas à mente humana, permitiram que transitasse por caminhos pouco explorados, principalmente na análise imparcial dos mitos, sobretudo os religiosos, de todas as origens.


Fazem parte do meu dia a dia leituras como: “O Herói de Mil Faces”; Os quatro volumes de “As máscaras de Deus”; “Deusas: os Mistérios do Divino Feminino” e sua grande obra póstuma resultante de uma longa entrevista que Campbell deu para Bill Moyers, “O Poder do Mito.” Das passagens bíblicas, as lendas aborígenes, o mundo imaginário dos deuses orientais, os itans africanos: tudo foi repassado, desmistificado, chegando a sua assertiva maior de que “OS DEUSES FALAM POR METÁFORAS”.


Na medida em que ia me aprofundando nessas leituras, fui mudando minha visão sobre os mitos e transferindo para minhas aulas algumas das observações acerca de mitos que persistem até os dias de hoje. Joseph Campbell, nascido em Nova York, era apaixonado pela sociedade nativa americana e seus mitos, embora tenha terminado sua graduação em Literatura Inglesa e mestrado em Literatura Medieval.


Seu grande salto no estudo dos mitos deu-se na sua ida para a Europa onde estudou francês e sânscrito nas Universidade de Paris e de Munique. Quando se mergulha nas obras dele, aos poucos, vamos descobrindo as razões de sua afirmativa, ou seja, passamos a enxergar o conteúdo e não o invólucro, o que está por trás das palavras escritas ou ditas.


Quando alguém lhe mostra uma moringa, é simplesmente uma moringa, um artefato de barro, feito para armazenar água, para saciar nossa sede. Sua função, porém, só estará completa se colocarmos água dentro da mesma. Nem sempre o seu conteúdo saciará nossa sede, porque poderá ser usada com outra função, como, por exemplo, para decoração, guardar moedas, e muito mais.


Assim são os mitos, usados na maioria das vezes para encobrir sua verdadeira face. Neste ponto, temos um conflito entre as religiões monoteístas e politeístas.

O Mito de Maria é um exemplo; surge no Concilio de Eféso em 431 d.C, na figura de Maria, A Mãe de Deus (Theotókos), que trazia consigo o poder de gerar, seria a mãe da fecundidade em contraposição às figuras da grande Deusa e de Ártemis, a Deusa da Fecundidade.


Na visão do panteão africano, politeísta, a figura da mulher se desdobra em suas quatro fases da vida: Guerreira, Sensual, Mãe e Sábia. Estariam aqui presentes numa só mulher quatro grandes fases, sendo a lua sua representação maior.


Teríamos, então, Iansã, a guerreira; Oxum, a sensual; Iemanjá, a mãe; e Nanã, a sábia. Uma mulher com múltiplas funções na visão politeísta e a mulher procriadora na visão monoteísta.


De todos os mitos, talvez o mais intrigante seja o de Eva e Adão, no qual a figura de Lilith, a primeira mulher, a segunda feita das entranhas de Adão é descartada, ficando a pureza de Eva moldada a partir da parte limpa, a costela de Adão. De acordo com a desmistificação do pecado original, da serpente e da maçã, o fruto proibido, Lilith, representava a própria sensualidade feminina, com seus desejos próprios. A serpente seria a representação dos desejos de Lilith em Eva, sua própria sensualidade e a maçã, o mito maior, representaria, na verdade, a pelve feminina onde o fruto, ao se abrir em duas metades, semelha a genitália feminina.


Seria, portanto, a própria feminilidade de Eva, uma das quatro mulheres que nela habita quem transpôs os caminhos proibido por Deus e levou Adão a realidade da relação entre um homem e uma mulher.


Na visão de muitos, não houve transgressão e o mito do pecado, o artifício para manter inibida a sensualidade/sexualidade feminina.


É assim que encaro hoje os mitos, como metáforas criadas como fumaça para encobrir fatos.


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