O MEU DEUS
- José Leonídio
- 25 de set. de 2020
- 3 min de leitura
OH, MEU DEUS é uma expressão useira e vezeira, que escutamos a qualquer momento, em qualquer lugar. Todos se apoderam da figura de um Deus que lhes é particular, só a eles pertence. O pintamos nas cores que melhor nos agradam e que achamos também agradará ao ser supremo que invoca.
Numa determinada ocasião, chamei atenção para o fato de que o primeiro a relacionar a criação de tudo que estava à sua volta a um ser superior foi um africano do qual trazemos traços no nosso DNA, o mesmo que atribuiu a origem do que contemplava a alguém que estava acima de si, no ORUN, ou céu.
A transmissão oral atravessou as savanas, montanhas, os oceanos. E cada um começou a achar que aquele Deus era uma divindade que só a ele e aos seus pertencia.
Aquele céu no qual mora a via láctea, coberto de planetas, estrelas, cometas, e que tem um sol que nos aquece e ilumina e uma lua que traz com ela a escuridão da noite, e muitas vezes o frio e a solidão, começou então a ser partilhado: cada um queria um pedacinho dele para chamar de seu.
Chegamos a um ponto que parece que cada estrela se dividiu num Deus e que, como os descobridores das novas terras, passaram a se apoderar delas e denominá-las como O DEUS de sua propriedade. Começaram a lhes dar valores e cada descobridor atribuía-lhe um brilho mais intenso do que as outras.
Abriram-se interpretações diferentes, interpretações que não foram ditadas pelo DEUS que afirma ser seu. Ninguém ditou nada a ninguém, os homens de diferentes etnias partilharam um Deus que dizia ser o melhor, cuja luz era a mais intensa, e que a eles, seus mensageiros, foi dado o poder de falar em seu nome.
O ORUN, o CÉU, o UNIVERSO foi partilhado pelos conquistadores de uma religião como verdadeira voz do SER SUPREMO.
O DEUS original continua lá, nas savanas africanas, e continua perguntando quem construiu toda esta natureza que está à nossa volta. Quem construiu as florestas, os oceanos, quem nos deu a vida e o poder de olhar, pensar, tirar conclusões e agir? Esta pergunta continua dentro de nós e a resposta construímos a cada dia, com nossos atos, nossas atitudes, nossa resignação.
Dizer que existe O MEU DEUS é se apoderar de algo que não lhe pertence, porque está dentro de todos nós, e somente nós sabemos conversar com ele, com a nossa voz ou o nosso silêncio.
Não existe uma declaração celestial dizendo que este ou aquele DEUS é superior aos outros, nem uma procuração com firma reconhecida em cartório dando plenos direitos a falar no nome Dele, que só tem nome DEUS, não tem sobrenome.
Desta forma, só existe uma família onde todos são iguais.
O DEUS africano, indígena, ariano, oriental, ocidental, seja lá qual for, é o mesmo DEUS. Não contemplamos vários céus, nem vários sóis, luas e estrelas, todos fazem parte de um conjunto só, o céu que se divide para que todos o contemplem.
Numa parte do dia está visível para uns, na outra, para outros. Este é o seu poder, o da ubiquidade, de estar em todos os lugares ao mesmo tempo.
Em meus delírios às vezes pensam que os satélites, as naves espaciais, as explorações interestrelares teriam o objetivo de chegar a DEUS, e o primeiro que assim fizesse teria o privilégio de dizer “OH, MEU DEUS eu o vi primeiro, eu o conquistei, eu o aprisionei”.
Mas isto é fruto de meus delírios. Porque este nunca será conquistado. O MEU DEUS é um todo e construído por um pedacinho de cada um de nós.

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