
Subindo ou descendo Estrada Grajaú – Jacarepaguá, pelo lado onde a floresta da Tijuca predomina, inúmeras vezes vi cruzar a minha frente belíssimas borboletas azuis, como se estivessem bailando no ar para encantar os seus admiradores.
A curiosidade me levou a desvendar seu ciclo evolutivo, desde o momento em que a borboleta fêmea deposita seus ovos, que evoluem para lagartas, transforma-se em pupas (casulos), eclodindo novas borboletas, a metamorfose em seu ciclo completo.
Saímos da condição onde o ovo é depositado numa folha para uma lagarta que dela se alimenta. Neste estágio, a beleza não é importante, pelo contrário, para evitarem os predadores algumas se camuflam, outras são venenosas, até que atingem seu estado de inércia, onde geram um ser totalmente diferente do de suas origens, quando se liberam de seus casulos as belas borboletas.
Estas lembranças me remetem a nós mesmos, nosso ciclo evolutivo dentro do casulo de nossas mães, até eclodirmos e ganharmos vida própria que, ao contrário das borboletas, não tem metamorfose completa. Nosso biótipo, sim, porém, necessitamos de muito mais para completá-la.
Inicialmente somos mãe dependente, posteriormente passamos a reconhecer que os que estão à nossa volta são nossos espelhos na infância. De repente a porta se abre, e um novo mundo se apresenta, onde tudo é diferente e melhor do que tínhamos até hoje. A adrenalina alimenta nosso centro de recompensa, somos adrenalina pura.
Na medida em que o tempo passa, vamos associando e interagindo valores e somos o que somos na fase adulta. Poderíamos dizer que nossa metamorfose estaria completa, afinal passamos por todas as fases e alcançamos o poder de sermos nós mesmos. Seria um engano dizer que a vida humana imita a natureza, porque aqui entra um novo elemento, o “gnos”, nosso acúmulo de conhecimentos que irá fazer toda a diferença.
Assim como nossas digitais, somos seres individualizados, com visões diferentes uns dos outros. Nossos cinco sentidos trazem informações a cada milésimo de segundo, que vão se acumulando em nossas memórias. São estas que constroem o que somos. Nossas ações e reações são comandadas por este acúmulo de conhecimentos.
Quanto mais conseguimos decodificar os dados que recebemos, usando nossa memória acumulada, separando o certo do errado, sendo crítico com o que nos chega, seja pelas redes sociais, rádio, jornal ou televisão, tomando atitudes ou posições que condizem com toda nossa metamorfose, mais verdadeiros seremos.
Aqui entra a importância do estudo, do conhecimento, de entender o que leva uma lagarta a se transformar em borboleta: duas situações absolutamente diferentes, de um ser sem nenhuma beleza, às vezes até perigoso, a outro de beleza e leveza que nos leva a parar e admirá-la.
Quando associamos a nossa bagagem nata, há anos e anos de estudo, conseguimos analisar os fatos à nossa volta com um novo olhar, uma visão crítica, na qual nossa individualidade de ser, pensar e agir é o mais importante. Somos seres sociais, interagimos com outros iguais a nós, porém, nossas atitudes dependem do nosso consenso.
Seguir ou não a outrem, passa a ser uma atitude pessoal baseada nas nossas percepções. Nossa área cognitiva, quando enriquecida pelo saber, é uma arma insuperável, porque alimenta nossa voz, nossa capacidade de dizer SIM ou, talvez, o mais importante, o NÃO. Talvez esta seja nossa maior METAMORFOSE, alicerçada no saber.
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