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  • José Leonídio

IMAGENS

Toda fotografia é um resumo de um instante, de uma fração de segundo. Um sorriso gravado de um momento de alegria num papel de fotografia ou numa tela representa tão somente aquela ocasião, por mais que queiramos registrar em imagem o que sentíamos quando a gravamos para todo o sempre.


Nem sempre o que nos é mostrado é o lado verdadeiro que estávamos vivendo. Quantas vezes na hora do clique, a voz comum faz um XXXXXs, ou seja, um sorriso forçado para dar um ar de alegria à fotografia? Essa memória de um tempo passado, fica gravada como uma verdade absoluta para a eternidade.


É do filósofo Confúcio a expressão:


“Uma imagem vale mais que mil palavras.”


Não sei se uma imagem substitui mil palavras. O que acho é que mil palavras podem ser substituídas por uma imagem, no entanto, o efeito causado pelas mil palavras é muito maior do que o que nos é apresentado. Ao lermos um texto, este nos leva para reflexões e dali tiramos nossas conclusões.


Quando este é substituído por uma representação visual, perdemos o poder de análise própria. Poderia comparar a vários alimentos com sabores diferentes que vamos experimentando um a um, existem aqueles que nos agradam mais, outros menos, e têm os que simplesmente não nos agradam de jeito algum.


Para mascarar o paladar misturamos todos os ingredientes, os emulsionamos na forma de caldo e este passa a ter um sabor único, que, na sua grande maioria, não conseguimos distinguir de que é sua composição. Ali estão os que gostamos, os que não, e os indiferentes. Simplesmente engolimos o todo: o sim, o não e o talvez.


As imagens, cada vez mais são usadas para exemplificar uma determinada situação e se portam exatamente como o caldo que citado. Elas representam a visão de quem está nos apresentando. A mágica da leitura está exatamente no poder que tem de nos permitir uma interpretação individual, diferentemente das imagens prontas.


Quando colocamos no papel ou na tela nossos pensamentos em um agrupado de palavras estamos descortinando nossa visão sobre uma determinada situação que vivemos ou estamos criando. Essa é uma posição que poderá ou não ser acompanhada pelos que a lerem. A interação entre a leitura e a sua interpretação é individual.


Numa determinada ocasião um texto para interpretação de um grande escritor brasileiro fez parte de uma prova de vestibular para acesso a uma Universidade Federal. Passados mais de dois meses, o autor que assinava uma coluna num grande jornal escreveu que se tivesse feito a prova estaria reprovado, porque nenhuma das respostas consideradas como certas pelos autores da prova correspondiam ao que pensara e escrevera.


Consequência, enquanto vivo, foi que nunca mais um texto seu fez parte das provas interpretativas dos vestibulares. Este exemplo representa bem o que discorremos até agora. Quanto mais as imagens entram nos nossos olhos, mais diminuem nosso poder de análise porque estas vêm prontas.


Quanto maior nosso poder de leitura, mais conseguimos enxergar o que se passa à nossa volta. Se só vivemos de ilustrações, das imagens que nos permitem enxergar, menos conseguimos entender o todo. A base das fakenews é exatamente exibir visões distorcidas, alicerçadas por falsas verdades absolutas em todas as mídias.


Nestes tempos nos quais o conhecimento racional é o remédio principal para combater a pandemia da Covid-19, vivemos numa avalanche de falsas imagens que a alimentam. Quando um povo não lê, e vive de imagens, não interpreta e passa a acreditar que o milagre virá do céu. Quanto mais letrada for a população, esta procurará na terra as suas soluções.


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