O início da vida é um encontro, desejado ou acidental. Um encontro que representa nosso estágio maior e que nos dá a oportunidade de sermos quem somos. Este é o nosso presente mais precioso. Somos o que somos e cada um de nós trilha um caminho único.
Mesmo quem alguém a quem prezamos muito esteja ao nosso lado, nossos passos são dados de acordo com os objetivos que temos. Nossos olhares também, até podem se cruzar ou se encontrar. Mas, no entanto, cada um de nós seguirá o próprio destino, intransferível e insubstituível.
Nosso primeiro encontro se dá ainda dentro do útero da mãe. Ali, pouco tempo depois da fecundação, começamos a ouvir a voz dela, a sentir seu odor, seu sabor. Quando nascemos e os primeiros feixes de luz acendem nossos olhos, a voz e o odor de nossa mãe faz com que direcionemos o olhar em direção ao som, porque naquele momento mágico o reconhecemos, por ouvi-lo desde o início de nossa formação. É ali, então, que se faz o encontro maior, tão desejado, da mãe com seu filho (a).
Crescemos com encontros a cada dia, com a família, com a sociedade, com a natureza, com as coisas boas e ruins que vão se mostrando a cada passo, a cada minuto. Às vezes, até pensamos o porquê de nos depararmos com essa situação, mas ela será necessária como aprendizado acerca do que novos tempos lhe reservarão.
Dizem que os anciãos são sábios, nos aconselham de como viver certos momentos, mas, na verdade, a sabedoria deles foi construída dos ensinamentos que os encontros lhe propuseram, orientar qual o caminho a seguir.
Ignorar a sabedoria acumulada destes encontros é ignorar nossa própria existência, a inteligência oralizada na voz monótona e monocórdica dos mais velhos.
Quantas vezes nos encontramos com os personagens, seja de um filme, de um conto, de um romance, e sentimentos diversos nos afloram. Porque situações parecidas ficaram gravadas em nosso arquivo remoto (lá dentro num cantinho do cérebro) e sem que percebamos eles afloram e ficamos perguntando a razão pela qual aquela cena ou aquele texto mexeu comigo; na maioria das vezes, não achamos a resposta porque não é visível: está dentro de nós, no invisível aos nossos olhos.
Nos encontramos no silêncio, no isolamento, na solidão, no vazio de vozes, onde somente o som da natureza nos envolve. É o encontro do eu com o nós, ou seja, do nosso eu interior com o nós externo.
Nos encontramos no nosso espelho da vida, ele nos mostra no dia a dia, sem que percebamos, que crescemos, alcançamos a dita maturidade, e, aos poucos, vai embaçando nossos olhos. É o encontro da vida com ela mesma dentro dos mais diversos seguimentos.
A vista cansada que dificulta nossa leitura talvez esteja ligada a mantermos nossa melhor visão, no espelho de nossas almas.
Os tempos são outros, a tecnologia nos afastou e nos aproximou, os encontros presenciais estão sendo substituídos pelos encontros virtuais, insossos, insípidos e inodoros, só a imagem e a voz, mais nada.
Os encontros nos quais a paixão e o cio se fazem presente, onde o silêncio e o sussurro faziam parte do enredo, hoje são denominados desejo, atração por outro ser, não um encontro de energias que se complementam.
É somente a descoberta do prazer para o prazer e os mistérios que se escondiam atrás de uma capa chamada amor desapareceram.
Ah! Os encontros muitas vezes são desencontros porque nos encontros sempre sobra o “por dentro”. Na velocidade da luz que nos rege hoje, parece que só resta o “por fora”, que é etéreo, se desfaz nas brumas dos segundos que virão.
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