Se existe alguma coisa além da felicidade, além do sorriso, do estar de bem com a vida, esta se chama “SER CARIOCA”. Como diz Adriana Calcanhotto, “Cariocas São Bonitos”, por fora e por dentro, são Dourados como o sol que os aquece e os ilumina, são Modernos no agir e no pensar, são Diretos. Não gostam de andar em curvas nem de lhe Fecharem o Sinal, porque são livres e, por isso, não gostam de dias Nublados. São Alegres, são bambas porque são Malandros no lado afetuoso, por isso, são Sexies.
Esse é o carioca, filho do Rio, não o de Janeiro, e sim do rio Carioca, o rio sagrado dos Tupinambás, o rio que dava às nativas as belas vozes, que o faziam ser um povo alegre. Esta herança, quase genética, permanece viva graças aos nossos irmãos afrodescendentes e também ao povo cigano que conservaram toda, à sua maneira, festeira de viver.
Volto à temática porque a interação entre o lado festivo dos nativos ao modus vivendi dos nossos irmãos africanos, onde o canto e a dança reverenciam seus orixás, eram seu alento ao sofrimento imposto e, também, a forma alegre e colorida dos ciganos. Todos em grande número na Guanabara foram na essência os alicerces que forjaram o “SER CARIOCA”.
Neste momento no qual, em função da pandemia do coronavírus que se abate sobre a cidade, momentos difíceis se apresentam, que obrigam em médio e longo prazo suspender duas das formas mais representativas de nosso espírito de ser alegre acima de todos e de tudo: o Réveillon e o Carnaval.
Ora, o Réveillon nada mais é do que associarmos nossa carioquice aos rituais vindos da diáspora africana em homenagem a grande mãe, Iemanjá, aliados à esperança de dias melhores com todas as suas superstições, além de comemorarmos também a chegada de Gaspar Lemos e a entrada da Baía de Guanabara. Os fogos de artifícios desenham no céu nossa alegria, nossa forma festiva de ser.
O Carnaval e a explosão do que somos, ou seja, da nossa forma alegre e colorida, associada à pujança, e à liberdade de ser e viver. Atravessamos os sete mares com o nosso estilo de vida, não há hospitalidade maior, sorrimos, cantamos, amamos, somos anfitriões por natureza, nossa formação alicerçada na diversidade nos deixou este legado.
Se alguém pensou que a adversidade era o sinal de que nos submeteríamos às imposições étnico-religiosas, enganou-se, somos superiores a qualquer intempérie. Temos a bravura dos imortais. Somos filhos dos povos que nos amoldaram.
Nunca nos abatemos, somos malandros, trazemos a capoeira na alma, aprendemos a saltar os obstáculos, a não permitir que o látego nos atinja, nada nos intimida, nossa alegria continuará no ar. Comemoraremos, sem nenhuma dúvida, do nosso jeito, sem tristeza, porque sabemos que um passo atrás nada mais é do que enxergar o horizonte numa amplitude maior.
Nossa corrente de SER CARIOCA é mais forte do que tudo. Quem pensar que desta forma nossa maneira de viver estará sepultada, engana-se: temos sete, 14, 21 vidas.
Nossa volta será em grande estilo, porque não nascemos para nos abatermos, ao contrário. Nosso coração bate ao som de um surdo, nossos olhos são irizados, amam as cores, falamos através de notas musicais, afinal aqui é o berço da música popular brasileira. Nada impede o SER CARIOCA de viver, de amar, de manter sua essência nativa. Tudo passa, menos o SER CARIOCA. O tempo é o Deus da verdade, da razão. Somos filhos do rio que tem um curso que nada muda, somos CARIOCAS.
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