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José Leonídio

Caminhando a favor do vento

Nossa existência é uma linha traçada por não sei quem, nem quando, ou onde; a única coisa que posso dizer é que é uma reta e que esta não se encontra com outras no infinito. É única e só a nós pertence. Tem princípio, tem meio e tem fim. Não é um esboço num papel vazio, pelo contrário, ele vai sendo preenchido por desenhos feitos com o passar dos tempos.


No início, os garatujos típicos da infância são comemorados com festas, bolos e balões coloridos, proporcionados por quem nos cerca. Num determinado momento, tiram nossos sonhos, escondem os brinquedos porque não somos mais crianças, passamos a uma nova fase, onde o ontem ficou para trás, as portas de nossas casas passam a ficar parcialmente abertas para que possamos ir nos libertando das influências que vêm desde o berço.


Novos ventos sopram em nossa direção, que vão nos embalando para um futuro que imaginamos, no entanto, não conseguimos visualizá-lo, porque o futuro é uma porta fechada, que se abrirá quando lá chegarmos. E seu conteúdo permanecerá desconhecido até entremos nele, e, nem sempre, o que achávamos que seria nossa realidade, o que planejamos, se tornará nossa verdade imaginada.


Uma frase é composta de palavras, verbos, adjetivos, substantivos, sinais. Ao compormos, farão todo o sentido do que desejamos comunicar. Somos como as frases e a cada dia é uma. Com o passar dos anos, temos à nossa frente uma obra escrita, nem sempre visível ou editada, mas um produto do dia após dia, com passagens boas, outras não tanto, que comporão a nossa verdadeira história.


Caminhamos a favor do vento, ou seja, não existe o vento contrário que nos faça retroceder. Ele sempre nos empurrará para o dia seguinte, não existe amanhecer e entardecer igual, são diferentes, da mesma maneira que não existem duas fotografias idênticas, nem dois gêmeos univitelinos semelhantes em todos os aspectos.


As paisagens se modificam da mesma forma que as personalidades de cada um. A cadente que risca o céu hoje não é a mesma que o riscará amanhã. Podemos conviver com amigos toda vida, mas cada momento será um momento, o sorriso de ontem não será o de hoje, as lágrimas também, porque aquelas poderão ser de tristeza e as de agora, de alegria.


Caminhamos na estrada da vida com o vento sempre nos levando para frente e, ao longo desta jornada, adquirimos valores que nunca pensávamos ter. Perdemos outros que imaginávamos que estariam sempre junto de nós. Somos fruto de um molde que estará sempre se aperfeiçoando, adaptando-se aos novos momentos, às novas situações.


Da infância até a idade da experiência, passam-se anos que, ao julgarmos serem intermináveis, quando vemos, parecem, na verdade, um grande salto.


Viver é uma dádiva, saber viver, uma conquista. Não temos que nos arrepender do que não fizemos, temos que saborear o que realizamos porque é isso que fica para sempre. Nunca imaginamos que podemos ser exemplos, que nossas atitudes podem ser copiadas, porém deixamos atrás de nós pegadas de nossos atos que serão seguidas por muitos: a partir delas, construirão outras que serão passadas de geração a geração.


Caminho a favor do vento e este me leva aos bons momentos. No veleiro da vida com a bujarrona enfunada, atravesso as tempestades, chegando ao mar das calmarias. Ter amigos que comigo caminham é uma dádiva. Poder olhar através do tempo é ver que as sementes plantadas germinaram, deram frutos.


Continuamos a semear porque semear e necessário, não importa o terreno, porque até os mais áridos se tornam em bosques ou florestas. Obrigado por todos aqueles que, de uma forma ou de outra, estiveram caminhando ao meu lado.




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