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  • José Leonídio

BRISA, VENTO E VENDAVAL

No fim da tarde, sentado na beira do mar, com as ondas acariciando meus pés, uma leve brisa afaga o meu rosto. Ao longe, o pôr do sol colore com uma infinidade de cores o horizonte, com seus raios dourando-me. Do outro lado, a lua cheia surge imensa prateando as águas e a areia. Entre os dois, como um presente, o arco-íris. Nada mais belo e significativo nestes dias de grandes dúvidas e esperanças.


A brisa traz consigo a paz, o frescor das tardes, o querer caminhar marcando pegadas de toda uma vida. Ela nos acalma, nos permite pensar nos próximos passos que teremos que dar. A brisa e a solidão são excelentes companheiras e conselheiras.


Quantas vezes, na soledade, tomamos decisões importantes que nortearão toda nossa existência? A brisa representa tempos de calmaria.


Quando menos esperamos, fica mais forte, torna-se o vento capaz de balançar os galhos das árvores e fazer cair ao chão suas folhas amarelecidas por já terem cumprido sua missão. O vento tem direção e sentido, O Zéfiro, aquele que vem do Oeste, nos faz agradável companhia. O vento Norte, Boréas, tanto pode ser o bom vento para o pescador como, pelo contrário, agitar e esfriar a terra e o mar. Quem não teme Euro, o vento Leste, que com sua energia verga ou arranca o que está na frente? Ou Noto, o vento quente que vem do Sul e traz em seu bojo as grandes nuvens que se tornam tempestades?


Existem momentos na vida nos quais os quatro ventos fazem-se presentes. Zéfiro, o vento leve, que nos refresca em dias de muito calor, nos toca, faz esvoaçar os cabelos, nos dá uma sensação de liberdade, como se quiséssemos ser um pássaro, abrir as asas e deixar com que nos leve para o paraíso que imaginamos, o projeto ideal de nossa existência.


Mas o que dizer quando o bom vento, Boréas, no lugar de trazer no seu bojo a abundância, a realização, pelo contrário, chega agitando nossos dias, trazendo o frio, nos fazendo tremer e procurar um abrigo que nos aqueça e nos dê proteção?


A ambiguidade dele nos deixa sempre em alerta entre o poder ter tudo e o precisar ser amparado.


Existem momentos na vida nos quais precisamos da resistência dos bambus, que se vergam, às vezes até próximo do chão, mas não se deixam quebrar. É tempo de Euro, aquele que traz as tempestades, dos ventos que arrancam as árvores mais fortes pela raiz, mas que não consegue fazer o mesmo com o esquálido bambu. Suas raízes e a união entre todos o fazem ser fortes contra todas as intempéries.


Como não temer Noto, o vento quente que vem do Sul, que forma as grandes nuvens carregadas de energia, que se acendem a cada instante com seus raios e seus coriscos, que faz crescer as cabeceiras dos rios, que se transforma nas cabeças de água, torna revolto os mares, alaga por onde passa, cujos ventos destelham as casas? Em poucos minutos transforma tudo num caos.


Zéfiro, Boréas, Euro e Noto existem dentro de nós e regem nosso dia a dia. Há momentos nos quais não nos preocupamos com o amanhã, tempos de calmaria; outros, ao contrário, em que procuramos um abrigo, uma companhia que nos aqueça do frio que acompanha a solidão, que alimente nossas almas.


Quando menos esperamos, temos os ventos fortes que fazem tremer nossos alicerces e aí devemos ser como os bambus e nos unirmos em torno de nossas raízes, sabendo que, por mais que nos verguem, passada a ventania, passado o vendaval, estaremos de pé, porque nossa construção é sólida, não nos deixamos quebrar nem ser arrancados pelas raízes.


Nossos alicerces, por mais forte que seja o vento, por mais que as pedras de gelo tamborilem nossas telhas e vidraças, permitem a brisa, na manhã seguinte, nos acariciar novamente, afinal nada é eterno, são somente momentos, não há vento que não termine, nem vendavais que não tenham fim. Quando adquirimos o direito à vida, ela veio acompanhada da BRISA, do VENTO e dos VENDAVAIS.


Com eles, é que aprendemos a trilhá-la e a tirar desse convívio nossos ensinamentos.


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