Somos seres sociais, aprendemos desde criança a viver tendo à nossa volta a experiência adquirida ainda no surgimento do homo sapiens na Terra. Na medida em que surgiam novos seres, novas famílias se formavam, porém, muitas vezes a consanguinidade fazia com que ficassem próximos, mantendo um laço de união: prover o alimento e a proteção para todos, principalmente às mulheres e novas gerações, eram fundamental para a integridade e continuidade daquele grupo.
Nascemos e crescemos tendo estes valores permeando as famílias. O patriarcado era o elo que mantinha todas as gerações unidas. Não importa onde estivéssemos, nas florestas brasileiras, nas savanas africanas ou nas cidades. A figura dos mais antigos, regia o modus vivendi daquele grupo. Em muitas regiões, o conselho de anciões era o responsável pelas atitudes e decisões dos que viviam no seu entorno. Vivíamos em verdadeiras ALDEIAS nas quais a harmonia e o respeito tinham direção e sentido.
Com o passar dos séculos, esta memória foi rareando. A ideia de ALDEIAS ficou no primitivismo, manteve-se nos povos ditos não civilizados. O conceito de agregar no entorno, entretanto, da figura de maior experiência, ficou e os filhos, netos e bisnetos nasciam e cresciam sob a proteção do núcleo. Havia interesses comuns, e os que vinham fazer parte dos grupos eram selecionados para sê-lo.
As ALDEIAS agora eram construídas em volta do núcleo central. As casas iam crescendo para albergar as novas uniões, ou seja, os novos casamentos. Assim surgiam verdadeiras ALDEIAS FAMILIARES, onde o mais importante era estar sob as asas do Patriarca e da Matriarca. Na ausência dos dois, os filhos mais velhos davam continuidade aos projetos.
Com o progresso e as novas formas de comunicação, lentamente foram ocorrendo mudanças nos núcleos, porém a influência dos mais velhos continuava a predominar. Famílias tradicionais de gerações de médicos, engenheiros, advogados, militares, de operários, foram se diluindo na poeira dos tempos. Não se conseguia mais determinar o caminho a trilhar dos filhos, que foram criando asas e descobrindo novos mundos, que lhes completavam muito mais na interação entre profissão, realização e satisfação interior.
Restava o núcleo, não tão extenso como antes, as mesas encolheram, mas os filhos mantinham-se juntos, formando pequenas ALDEIAS. Nelas, o sonho dos pais era o de que seus filhos cresceriam, casariam e morariam ali bem próximos, de forma que filhos netos e bisnetos convivessem, conservando o elo que uniu o casal, que lhes deu origem.
Ver as crianças correrem nos quintais, brincarem no balanço e a avó contando, na sua voz melodiosa, já cansada pelo tempo, as velhas fábulas que despertaram a imaginação dos seus pais, fazia parte do sonho plantado ainda quando jovens.
Os dias, os anos foram passando e as pequenas ALDEIAS foram se esvaziando. O sonho do pai de ter seus filhos junto de si foi desfeito, assim como a globalização. Eles também se globalizaram.
Casas e apartamentos idealizados para serem as ALDEIAS do futuro perderam suas identidades e aqueles que as idealizaram se viram, de uma hora para outra, de volta às suas origens. São agora um casal que se habituou a viver junto por décadas; estavam sós, numa aldeia sem brilho, sem barulho, sem correria.
A única presença passou a ser através das comunicações por redes sociais, por chamadas telefônicas de vídeo, que, em parte, enchem o vazio dentro de si. Pelo menos, é possível vê-los. Uma comunicação fria, pois a câmera não consegue substituir o toque, o olhar, o calor do abraço. Mostram-nos a neve que cai onde vivem enquanto seus interlocutores estão no calor de quarenta graus dos trópicos.
Nossas ALDEIAS agora são imensidões, vazias, sem sorrisos, sem pedidos de benção e proteção. Os pais contemplam das janelas novas gerações, provavelmente oriundas de outras ALDEIAS, cujos pais também estão nas janelas admirando as novas gerações que passam em carrinhos suntuosos. As de seus filhos também devem estar sendo apreciadas por outros olhares, cansados e saudosos, de ALDEIAS vazias como as suas.
A ALDEIA agora é de dois, não estão sós, um pertence ao outro, é a razão dos tempos.
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