Observar a natureza é uma fonte de ensinamentos que nos alimenta todos os dias. A copa vistosa de uma árvore que acostumamos a ver, num determinado momento, esvazia-se; somem as folhas, ficam somente os galhos. Pouco tempo depois, dos ramos desnudos que parecem sem vida, começam a sair pequenos brotos que se transformarão em novas folhas, que lhe darão um novo formato. É a vida que evolui concedendo novos contornos ao velho tronco.
Somos os brotos que saem de troncos seculares, viramos galhos e, enfim, troncos, mas não perdemos nossas identidades. No ciclo da vida, disseminamos sementes que nos perpetuarão. Nossas origens não se iniciam na fecundação, nem no momento em que respiramos o ar pela primeira vez. Pertencemos a uma árvore milenar, onde dela somos somente as folhas.
Para que possam crescer, além de estenderem suas raízes ao longe, é necessário que as folhas envelhecidas se desprendam de seus ramos e bailando pelo ar pousem eternamente sobre a Mãe Terra. O resultado é um tapete colorido, que aos poucos vai se desintegrando, adubando o solo, permitindo que o tronco milenar continue a crescer.
Não existe árvore velha. Ela nunca morrerá, estará sempre presente dentro de nós. Nascemos após um período de gestação e adquirimos conhecimentos com nossas vivências. A cada outono que marca nossa existência comemoramos com festa a perda de nossas folhas amarelecidas e a troca por novos brotos. A esperança é que eles nos farão evoluir dentro das metas que traçamos.
Na medida em que avançamos no tempo, muitas são as mudanças de nossas folhas e os novos galhos que surgem e nos ultrapassam por novos conhecimentos. Saímos da condição de galho, viramos tronco, passando a servir de sustentação àqueles que vão surgindo.
Este é o segredo da natureza. Os troncos sustentam as novas vidas que nascerão de suas folhas transformadas em flores, que, por sua vez, darão origem aos frutos.
A idade não é o prenúncio do princípio, meio ou fim de uma jornada. A jovialidade é uma etapa do aprendizado que levaremos por toda a vida. O peso das experiências vividas curva por vezes nossas colunas, mas continuamos a produzir a seiva que alimenta novos ramos, novas folhas.
Dizem que chegamos a um estágio da vida em que passamos a não mais ser útil à sociedade. Esta não é uma afirmativa verdadeira, porque quando se ultrapassam os limites da juventude, da fase adulta, deixamos de ser os tênues ramos e galhos com suas folhas, flores e frutos e passamos à condição de troncos: temos a nova função de nutri-los e permitir que cumpram suas incumbências até um novo estágio.
Afirmar que a velhice é uma forma de estabelecer um limite entre o ser produtivo e o improdutivo é uma visão canhestra da vida, afinal andar lento, com as costas curvadas e o olhar embaçado, faz parte dos conhecimentos acumulados. Sem eles, nada nem ninguém, conseguirá evoluir. Seria como começar do nada.
A voz pausada, a capacidade de escutar são maneiras de interagir e trocar conhecimentos. Muitos dizem que fatos vividos no passado a ele pertencem, que uma pessoa idosa não tem mais o que transmitir, o tempo dela passou. Mas esta é uma visão de quem não consegue enxergar seu próprio horizonte, de quem não percebe que hoje é um ramo ou um galho, mas amanhã será um tronco, com as mesmas funções daqueles de quem se fala.
O que seriam as memórias senão a vida aproveitada em sua plenitude e a capacidade de trazê-las para o presente para que os mais jovens possam moldar seu futuro? A natureza nos ensina que todos os estágios da vida cabem numa só árvore, cada um com sua função.
Sem os mais experientes, os verdadeiros troncos que sustentam a sociedade, nada seríamos. Com eles, aprendemos a andar, a falar, a ler e escrever, a correr, a ser quem somos. São a seiva que nos alimentará até que viremos tronco sustentador de raízes.
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