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  • José Leonídio

A BELEZA ESCONDIDA PELO BELO

Há alguns anos me chamou atenção como eram belas as orquídeas azuis. Passei algum tempo admirando-as, porém, seu custo era muito elevado para poder adquiri-las. Nas palavras do vendedor orquídeas, Phalaenopsis são raras, difíceis de cultivar. Fiquei algum tempo ainda apreciando a beleza dela e pude perceber que até suas raízes eram azuis.


Depois de um período passei novamente por onde tinha visto as orquídeas que tanto me impressionaram: tinham acabado. Segundo o vendedor, eram vendidas rapidamente. Como necessitava comprar alguns suprimentos para minhas plantas, entrei na loja e qual não foi minha surpresa que havia um saldo de orquídeas sem flores, a um custo de R$ 5,00 cada uma; só que não sabiam dizer as cores de cada uma. Ao separar um lote, uma vez que o preço era atraente e não me importava a cor e sim sua beleza deparei com algumas cujas raízes nunca esqueceria, eram azuis.


Não hesitei e peguei todas, sabia que com o tempo florariam de novo.Com todo o cuidado, fixei-as nas árvores que circundam minha casa em Saquarema. Minha alegria foi por vê-las se adaptarem na nova morada, porém comecei a observar que suas raízes estavam perdendo a cor original, igualando a das outras que não eram azuis.


O tempo foi passando e do outono para o inverno começaram a lançar seus pendões para nova floração.


Quando abriram, pude perceber que o belo que se me mostrava inicialmente era totalmente falso. Minhas belas orquídeas que achava que eram azuis, na verdade, eram de uma beleza singular, eram cachos e cachos de orquídeas brancas que a todos encantava. Não havia quem passasse e que não se encantasse com o espetáculo que proporcionavam.


Depois de muito pesquisar é que vim a descobrir que a beleza natural das Phalaenopsis brancas tinha sido maquiada por um pigmento azul que era colocado em suas raízes.


A vida nos mostra momentos iguais aos que relatei, às vezes nos proporcionam um belo que querem que apreciemos, entretanto, quando o mesmo se apresenta sem nenhum artificio, passamos a enxergar a beleza em seu estado natural, sem artifícios: a beleza que muitas vezes enche nossos olhos de brilho ou até de lágrimas, porque é a beleza na sua essência.


O belo que muitos querem que admiremos, com sua verdade absoluta, e como a obra de um artista que alguém resolve retocar para chamar atenção na visão de quem o retoca. A beleza simples, natural, passa a maioria das vezes desapercebida, porque de tão bela e tão simples não a valorizamos. Somente o tempo e a sensibilidade do olhar nos mostrarão o que querem que vejamos.


A beleza das orquídeas azuis é finita, mas o branco de seu matiz original, não. Este nos presenteará a cada floração com sua beleza. A arte imita a natureza no seu ponto focal, ou seja, imitamos a natureza com as cores que achamos serem as mais bonitas, mas neste momento é somente a beleza escondida pelo belo.


(As orquídeas Phalaenopsis que ilustram o texto são as azuis que relato no início do texto).

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