
Um atrevido raio de sol entra pela nesga da janela e vem pousar sobre a mesa onde tomo o café da manhã (nunca consegui chamá-lo de desjejum). Neste momento um facho de luz despertou minha atenção, com o seu poder de desviar pensamento e fazer mergulhar em outros mundos.
Numa determinada ocasião, numa aula de Psiquiatria, o professor transitava entre os conceitos de delírio, fantasia e devaneio. Daquela aula me lembro de um nome e somente um, Gradiva.
O docente se reportava ao romance “Gradiva”, de Wilhelm Jensen, fazendo alusão aos estudos de Sigmund Freud sobre o mesmo, na publicação “O delírio e os sonhos”, e sua influência sobre um grande número de adeptos do movimento surrealista.
Ora porque eu, neste momento, mergulho num universo literário que serviu de instrumento para os estudos sobre o delírio por Freud, onde usa como exemplo a descrição de um arqueólogo ao contemplar uma escultura feminina denominada Gradivava. Em seus sonhos, se transporta para a cidade de Pompeia momentos antes do vulcão Vesúvio entrar em erupção e vê-la sair da escultura e, sem que nada pudesse fazer, ser coberta por suas lavras.
Talvez por ter sido sempre fascinado pela história de Pompeia e Herculano este relato tenha sido uma das únicas lembranças que guardo da cadeira de Psiquiatria, ou, quiçá devido as inúmeras vezes que me diziam que estava delirando, que era um utópico, que meus sonhos nunca se tornariam realidade.
A realidade é, muitas vezes, dura, incisiva, porém não tem o poder de inibir nossos sonhos. Se nossa utopia, nosso delírio, nossos sonhos não podem ser convertidos em realidade no aqui e no agora, no hoje, é bem provável que possamos atingi-lo num futuro, que pode não estar muito distante.
Ao contrário do arqueólogo de Gradiva, que em seu delírio se remetia a Zoé, um amor de sua infância, nossas utopias, nossos sonhos e delírios não estão cobertas sob as lavras do vulcão do passado. Elas têm seu tempo certo para se converter em realidade.
Uma geração se separa da outra a cada dez anos. Se você tem quarenta anos, três gerações se formaram atrás da sua. Neste período muito do que pensávamos ser utópico, sonho ou delírio, fazem parte hoje do nosso dia a dia. Somos humanos, nossa área cognitiva (inteligência) é dinâmica, nossos conhecimentos vão além do que pensamos. Para você e os que estão à sua volta tudo pode parecer ser utopias, sonhos e delírios, porém, para sua parte invisível, dentro do seu cérebro não é, e um dia verás que o que chamavam de utopias, sonhos e delírios se realizaram.
O tempo é a razão dos tempos. A inteligência humana é cumulativa e passa de geração em geração. Acredite em você, nas suas utopias, nos seus sonhos e nos seus delírios,: num belo dia, como o raio de sol que me fez delirar nesta manhã, se realizarão. Não tenha medo de sonhar.
Uma boa semana para todos, e se cuidem nestes tempos sombrios.
תגובות