Ao observar a corda do varal, percebi que, apesar da altura onde as formigas estão, caminham com absoluta naturalidade, em velocidade constante. Se virem outra no sentido contrário, a que está indo passa para a parte de baixo da corda, permitindo que a que conduz o sustento para o ninho cumpra sua função. É desta forma, dividindo espaços e tarefas, que mantêm a união e o equilíbrio no formigueiro.
Esta observação me permitiu uma reflexão sobre como nos comportamos mediante as situações senão iguais, pelo menos parecidas. Neste momento percebi o quanto somos individualistas, só enxergamos o nosso caminho, nossa direção e nosso sentido.
Se algum obstáculo se interpõe à frente, não temos a humildade das formigas de abrir espaço para quem tem mais necessidade de atravessá-lo. Somos seres RACIONAIS e, dentro da nossa razão, o eixo do UNIVERSO somos nós, e todos têm que se enquadrarem às nossas inópias, porque o mundo gira no nosso entorno, e todos têm que nos servir.
Aqui, quando uso o pronome possessivo nosso, na verdade o utilizo na individualidade do ser humano: todos os seus objetivos são prioritários e acima de tudo e de todos. Dentro deste raciocínio, não existem mais ninhos coletivos e, sim, espaços individuais, nos quais nos introjetamos, depositamos o que nos convém, o que satisfaz aos nossos egos, que pode ser material ou imaginário.
O brilho que nos deixará felizes pode vir do mais puro ouro 24 quilates, das pedras preciosas, ou mesmo das bijuterias baratas, com suas pedrarias falsas.
Se ultrapassamos os limites da convivência, na realidade estamos nos colocando como seres superiores; nossas pretensões vão além das dos pobres mortais que nos cercam. Aristóteles, um discípulo de Platão que viveu entre os séculos 384 a.C e 322 a.C, dentre seus postulados afirmava:
-E cuide de seus atos, são eles que formam o que você está vivendo, e atraem semelhantes coisas para sua eternidade. Somos o que fazemos repetidamente. A excelência não é um ato, mas um hábito.
Volto para a minha observação inicial acerca do trilhar das formigas sobre o varal. Ali o respeito às funções, a união e a compreensão sobre a importância de quem estava è frente era superior ao individual. Oferece-nos uma lição importante, de como seres ditos inferiores, que podemos esmagar sem ver com uma passada, se unem, se protegem em prol de um objetivo comum para a sobrevivência da sua comunidade.
Às vezes penso que o ser racional, dentre todas as vantagens adquiridas com o desenvolvimento do seu intelecto, trouxe na sua esteira grandes desvantagens, como a discórdia, o desrespeito, a quebra de valores e hierarquias. A sabedoria dos mais velhos acaba como um incômodo a quem começa a usar os conhecimentos acumulados há milênios.
Saber ouvir e aplicar a experiência vivida em novos momentos, com novos atores, não é uma obrigação, é uma virtude. Voltando para Aristóteles: “O caráter é o produto da série de atos dos quais se é o princípio.”
A sabedoria das formigas e a acumulada milenarmente podem nos ajudar a sermos seres mais justos, mais participativos. Somos iguais independentemente de qualquer outro tipo de valor.

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