Quaresma, primeira semana, um ar dominical nos invade. Não vemos mais as senhoras e os jovens com suas mantilhas enlutecidas e os homens com o luto nos paletós ou camisas.
As falas quase sussurradas, cabeças pendentes ao chão, em sinal de respeito ao martírio de nosso Senhor Jesus Cristo.
O aguardado Mi Careme, no vigésimo dia, quando o profano se apresenta novamente para depois se ausentar até a Páscoa. O profano das Mi Caremes se perpetuou, atravessou seus limites religiosos e, hoje, se transformarão nas tão comuns Micaretas. Saudosismo não: tempos vividos; até o tilintar dos sinos não são os mesmos.
O jejum de alimentos e corpos ficará preso nas teias dos templos. Hoje tudo é possível sem o ranço ou a mácula do pecado.
As músicas sacras, tão comuns à quaresma, foram substituídas pela músicas eletrônicas, tão ao gosto da turba marcada e ferrada que as frequentam.
São os novos tempos. Não estou recriminando, nem querendo que o passado volte ao nosso convívio. Adquirir novos valores e abandonar antigos faz parte da evolução humana. Não se constroem fortalezas em cima de turfas.
É necessário um bom alicerce e o passado é este alicerce, com novas pinturas, valores e atores. A única coisa que não mudou foi o caráter humano.
Assumir seus acertos e erros. Se omitir como resposta aos seus movimentos é no mínimo implantar a desconfiança naquele que os seguem e que acreditam que exista valores morais inatos dentro de nós. Podemos não ter mais o ar sombrio e soturno da quaresma, mas restou ao menos a nossa dignidade que ultrapassa este período, é nosso espelho para toda uma existência.
Um domingo em que possamos renascer sem as máculas do passado, as morais, não as profanas que se diluem na poeira dos tempos.
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