O silêncio pode ser uma forma de expressão. O escritor e poeta alemão Johann Wolfgang von Goethe, em um dos seus pensamentos ensina que:
“No silêncio forma-se o talento, mas o caráter, no turbilhão. ”
Na solidão do silêncio é que se ouve quase sempre a voz da razão. Ele faz refletir sobre o ontem, o hoje e o amanhã. Quando se mergulha dentro de si mesmo o único som que se percebe é o do nosso próprio coração.
Nossos sentimentos emergem e os filmes, arquivados na cinemateca do nosso cérebro, vão sendo exibidos, um a um. Analisam-se as diversas situações ligadas àquele momento em particular. Caminhamos por trilhas e picadas que nunca imaginávamos ter percorrido. Conseguimos tirar conclusões que no calor dos acontecimentos passaram despercebidas.
Mil palavras podem não ter o valor de alguns minutos ou horas de silêncio. Porque as palavras vão sendo elaboradas no correr dos fatos e nem sempre a primeira frase dita é coerente com a última. Tentamos no atropelo das falas impor nossos valores ou nossos debatedores tentam fazer com que os seus prevaleçam.
Não são raros aqueles que não conseguem conviver com o silêncio que os atemoriza, deixa-os inseguros, porque desde criança acostumou-se a dialogar com outrem, seja no núcleo familiar ou na sociedade.
Quando se veem sozinhos, com os sons do silêncio, se desesperam. Nada lhes deixam mais atônitos do que a solidão da noite, o silêncio que apavora. A escuridão que se desfaz em sombras que adquire diversas formas, silêncio que é quebrado pelos sons dos animais noturnos, os uivos, os pios da coruja ou do bacurau que no imaginário popular são de mau agouro.
Por vezes necessitamos de nos isolar, dar longas caminhadas em que nossos pensamentos vão sendo lapidados e os únicos sons que ouvimos é o de amor dos pássaros ou o marulhar das ondas. Quando voltamos de nosso mergulho no silêncio de nós mesmos, nos sentimos mais fortes para tomar nossas decisões.
Contra o silêncio, as palavras, que ferem, machucam, deixam cicatrizes. Estas se transformam em armas na voz, por vezes intimidadora, de quem não consegue enxergar a si mesmo, não se permite rever seus valores.
Aprendemos desde cedo a nos comunicar, seja por gestos ou oralizando nossos desejos ou propósitos, o que faz parte de nosso aprendizado para a vida. Em momento algum nos é ensinado o valor do silêncio que é insubstituível. Nos dias de hoje as famílias emudecem, valores são deixados do lado de fora das soleiras, porém esta ausência de comunicação interpares na atualidade está associada a uma nova forma de se relacionar através das redes sociais com o auxílio da internet.
As novas gerações não praticam a arte do silêncio, suas mentes são preenchidas pelos bytes, ou seja, em unidades de informação digital. A velocidade do som (voz) é de 343m/segundo, a da luz (imagens) é de 300 mil Km/segundo, mostrando que as imagens são muito mais poderosas no ponto de vista de fornecer dados ou informações.
Existe, desta forma, nos dias de hoje um silêncio artificial, o diálogo oral inexiste, o tempo que seria dedicado ao silêncio, a maturação dos pensamentos, dos caminhos a serem percorridos são dominados em tempo integral por informações que nos chegam na velocidade da luz.
As gerações que se sucedem estão ficando presas a verdadeiras teias e passaram a ficar imóveis, nada mais lhes é permitido fazer por autodeterminação. Pouco a pouco, o silêncio vai ficando vazio, porque ao alimentarmos nossos laptops, nossos tablets ou smartphones nos dão a resposta previsível baseada na teoria das evidências. Volto a sabedoria de Goethe:
“No silêncio forma-se o talento, mas o caráter, no turbilhão.”
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