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MAIS PRA QUÊ? MAIS POR QUÊ?

José Leonídio

Escutei esta indagação há alguns dias, vinda de um político, em relação às terras indígenas. Os nativos possuíam uma porção do Brasil que correspondia à França e Inglaterra somados. Para que mais? Este questionamento vinha de um não nativo, um ariano, ligado à exploração da terra com fins meramente lucrativos.


Voltemos às nossas origens, à Pindorama, onde os Brasis predominavam de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Bem antes dos templários travestidos da Ordem de Jesus albergados pela Coroa Portuguesa aportarem nas costas das terras de Santa Cruz, outros visitantes aqui estiveram. Era a era do bronze e suas matérias fundamentais estavam nos solos da América do Sul - o ferro e o cobre.


Aqui viviam os Brasis, os nativos da cor da brasa. Ninguém descobriu nada, simplesmente como grileiros se apoderaram de uma terra que tinha dono; sua riqueza esbugalhava os olhos dos que se diziam descobridores e que se acobertavam sob a Cruz de Malta, a Ordem de Cristo, a igreja acima de tudo.


Tudo foi praticado e acobertado sob o manto da sagrada Igreja Católica Apostólica Romana. Os nativos não tinham nos seus fonemas o “f”, “l” e “r”, portanto, não tinham Fé, nem Lei, nem Rei. À luz da Ordem de Cristo, os Jesuítas, não tinha alma. Nasceram para servir aos seres superiores, os descobridores.


Dentro desta ótica toda uma nação foi exterminada, a Nação Tupinambá porque sua inteligência e poder de relacionamento iam ao encontro dos postulados daqueles que se diziam novos donos das novas terras.


Um holocausto dentre os muitos que ocorreram nas Américas e que a história não registra. Foram feitos em nome de um povo que se acha superior. Em se falando da Terra Brasilis, foram milhões de nativos escravizados e sacrificados, milhões de mulheres indígenas traficadas para serem prostituídas aqui e alhures.


Nossos milhões de irmãos africanos escravizados, que deixaram suas insígnias plantadas em nossas terras. As sementes de um novo porvir.


Quando os que se diziam donos destas terras aqui aportaram, encontraram uma civilização, com o lema IGUALDADE, LIBERDADE E FRATERNIDADE, sua razão de ser. O respeito à natureza, e a cada um, fosse homem, mulher ou criança era o princípio básico. O que era de uma era de todos. Leiam os Canibais na obra Ensaios de Montaigne no século XVI.


Por que dou toda esta retórica, por causa de uma frase de um político? É simples, Pindorama, denominada mais tarde Brasil, pertencia aos nativos que as dividiu com “OS INVASORES”, porém, estes nunca admitiram que seus donos verdadeiros habitavam-na há milhares de anos.


Em nome de um Deus que nada via nem consentia, sacrificaram milhares de vidas, mentiram para destruir. Sob os nossos pés vivem eternamente milhares de Brasis, cujas vidas foram tiradas no fio da espada, afinal são de José de Anchieta as palavras “Aqueles que não se submeterem a cruz se submeterão ao fio da espada”.


Vivemos tempos difíceis, vozes diferentes, atores diversos. No entanto, o público-alvo mantém-se o mesmo. O Brasil nunca teve exércitos. Em suas grandes contendas sempre se valeu da dita escória, com promessas de terras e alforrias. Brasis, africanos ou afro-descentes continuamente foram os que defenderam a Pátria. Nosso contingente ariano sempre ficou atrás das casamatas.


A exploração da terra ocorre não naquelas exploráveis, usando a mão de obra dos trabalhadores da terra. O mundo mudou, a tecnologia assumiu o comando, onde milhares de mãos cuidavam da lavoura, hoje uma máquina, inerte às intempéries, da conta de tudo, permitindo que poucos lucrem, e os que cuidavam da terra, fique à mingua.


Mas querem mais, aniquilar os resquícios de história, acabar com os Brasis, tomar suas terras, explorar suas riquezas, poluir seus rios a procura do ouro. Não respeita a vida, a verdadeira história da Terra Brasilis. Quanto do conhecimento deste povo não faz parte da modernidade. O que seria do mundo se não fosse o látex da Amazônia, de todos os fármacos retirados do conhecimento oriundo dos nossos antepassados e das nossas florestas.


Não lhes negue o espaço, porque é de suas observações, seus conhecimentos e sua interação com a natureza que conseguiremos sobreviver. Negá-los a nadar no lodo da ignorância.






 
 
 

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