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José Leonídio

Direção e sentido

Me recordo que esta era uma das minhas grandes dúvidas, quando fiz o antigo científico na área de saúde. Era avesso aos números e às letras no colégio Dois de Dezembro. Meu professor de física era o Lig-Lig (não sei a razão pela qual o chamavam assim e nem me lembro do nome dele). Uma das únicas coisas que registrei foi a diferença entre DIREÇÃO E SENTIDO.


Quando um aluno perguntou como diferenciar direção de sentido, usou uma figura de fixação de imagem que nunca mais esqueci, acredito que a turma também não:


- Como se abre uma fechadura, da direita para esquerda, ou da esquerda para a direita?


A turma quase, em uníssono, respondeu:


- Da direita para a esquerda!


Como se atravessa uma rua de mão e contramão, olhando somente para um lado ou para os dois?


- Para os dois!


-Por que?


Uma aluna levantou e respondeu:


-Se não, sou atropelada, e nem faço o vestibular!


- Muito bem, respondeu o Lig-Lig, entenderam a diferença entre direção e sentido? Se você tem como opção o caminho da direita, este é um sentido da trajetória que você escolheu, se for o da esquerda é outro; um abre, outro fecha. Se você atravessa a rua sem olhar se é mão ou contramão, ou seja, se tem sentidos contrários, como disse o colega, existe o risco de ser atropelado.


Nunca mais me esqueci dessas explicações, que norteiam meus caminhos. Direção e Sentido não são a mesma coisa, mas são complementares. Escolhemos uma direção, caímos na encruzilhada do sentido, Norte ou Sul? Leste ou Oeste? Sim ou não?


Neste momento a física me ensinou a diferenciar minhas escolhas. Isto é, aprendi em matemática que a ordem dos fatores não altera o produto, um princípio básico das exatas, porém na vida, a ordem dos produtos pode alterar a compreensão final. Se 1 +1 são iguais a 2 nas exatas, na vida real 1 + 1 podem ser iguais a 3 ou mais. Somem-se mãe + pai igual a dois ou mais (filho ou filhos).


Esta verdade absoluta contrapõe-se àquela alicerçada no que se denomina numeração arábica, desenvolvida pelos hindus, absorvido pela cultura islâmica, e disseminado por todo o planeta e que data de cerca de 300 anos a.C.


Nossos momentos nos colocam à frente de uma direção em que nos deparamos com sentidos diferentes, horário ou contra horário, avançamos ou recuamos, temos uma reta. No entanto, não um norte nem um sul. É o momento no qual entra o sentido das experiências passadas, o conhecimento acumulado sem que você saiba e teu “sentido” lhe encaminha para a trilha, a picada, mais segura.


Quando pensei que Lig-Lig seria tão importante nas minhas resoluções futuras? Pequenas frases, palavras únicas, exemplos sem significados não têm sentido num determinado momento da vida, mas quando conseguimos enxergar o ontem como fonte do conhecimento do hoje e do amanhã passamos a entender que o ontem é a razão principal das escolhas acertadas do presente.


Se nos ancoramos no passado, num determinado momento não conseguiremos mais sair da nau que a ele pertence, mas, se pelo contrário, abrirmos nossas velas em busca de novos horizontes, a direção pode ser a mesma, porém um novo sentido. Mares revoltos podem continuar a ser revoltos, entretanto, a quilha de nossas naus podem passar a procurar águas calmas.


Entender a direção da vida e o sentido que lhes queremos dar talvez tenha sido a maior lição que Lig-Lig tenha deixado.





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