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BRASILÊS, A NOSSA IDENTIDADE

José Leonídio

Há 842 anos, em 23 de maio de 1179, deu-se a criação do reino de Portugal através da bula Manifestis Probatum emitida pelo Papa Alexandre II, sendo Dom Afonso Henriques declarado seu Rei. Apesar de territorialmente constituído, a comunicação oral no novo reino fazia-se através dos dialetos regionais de Castela e da Galícia pelo Castela ou castelano e pela Galícia ou galego.

Somente após a ascensão de Dom Diniz que o novo reino passa a ter uma identidade linguística, numa variante dos dois dialetos. O português então tem sua origem na Península Ibérica? Não, porque sua origem parte da invasão romana e a utilização, por séculos, da linguagem oral dos invasores, o latim.


Na medida em que cada região foi adotando a linguagem do invasor, foram-se criando dialetos. A invasão da Península pelos Godos, Visigodos, Vândalos, Alanos e outros bárbaros não foi só territorial, mas também nos modos e costumes dentre os quais uma das mais importantes, como a oralidade da região ocupada e a introdução de novos vocábulos.


Muitos textos, por terem alicerces na língua romana, são chamados romances. Ao caminharmos um pouco mais pela formação do que hoje chamamos de língua portuguesa, vemos que a invasão dos mouros deixa herança também no português original.


A diáspora cigana por toda Europa e principalmente Portugal e Espanha também deixa cicatrizes profundas na oralidade. Como exemplo o termo com gadjo (o que não é daqui), gitano (ciganos) e mesmo profissões como caldeireiros que lidam com a forja e o ferro.


A absorção dos templários remanescentes por Por Dom Diniz à Nova Ordem de Cristo permitiu que Portugal dominasse a navegação marítima e a partir daí a conquista de novas terras e a interação com novas linguagens, cujos vocábulos foram se anexando ao linguajar dos navegantes.


A chegada da esquadra de Cabral em Pindorama trouxe nova realidade oral. Os nativos do litoral falavam o Tupinambá, a língua comum desde o Norte até a Guanabara, e o Tupi propriamente dito, que era comum às tribos de São Vicente.

O padre José de Anchieta, ao se fixar naquela região, percebeu que não havia o conhecimento da escrita, somente da comunicação oral. Ele então adaptou a gramática portuguesa ao Tupi usando a conversão dos textos religiosos e tendo como exemplo a Ave-Maria e o Credo.


Acontece que a língua nativa estava enraizada em todos os elementos, na comunicação oral, acidentes geográficos, em denominações de plantas e animais e persistem até hoje com mais de 10 mil vocábulos oficiais. Com a dificuldade da escravização dos nativos a partir do fim do século XVI, iniciou-se o tráfico de africanos escravizados, com etnias diferentes.


De Camarões até a África do Sul trouxeram os Bantos, cujas línguas mais faladas era o Kinbundo e o Umbundo. Da Nigéria e do Dahomé (Benin) vieram o grupo Nagô, que também eram conhecidos por Yorubás. Também do antigo Dahomé o povo Jeje, com a língua Ewe Fon que já sofria forte influência francesa.

Pindorama, agora denominada Brasil, passou então a ter uma fusão de linguajares e o que menos se falava aqui era o português de Portugal. Associe-se também a chegada de milhares de Judeus, Mouros e Ciganos, cada um deixando suas influências no linguajar nativo. Dos judeus a maioria dos sobrenomes oscilam do A ao Z. Dos mouros, algarismo, algodão e fulano, entre os milhares de vocábulos. Dos ciganos, chulé, geringonça, pirar...


Para impor uma língua não falada no coloquial diário, Dom José sob influência do Marques de Pombal decretou que a língua oficial da Colônia era o português, mas qual? O de Portugal ou o da comunicação de um povo miscigenado de etnias e oralidades?


Nosso linguajar não é Bundial (chulo da tribo dos Bundas, do Kinbundo). Nossa língua é rica, não abandonou a nativa, resvalamos por ela a cada instante. Temos termos que só nós conseguimos saber e sentir. Falamos o BRASILÊS porque somos únicos, nos expressamos com o calor da Brasa, dos Brasis. Somos o que somos, e nos orgulhamos disto.




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