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José Leonídio

AMOR, PAIXÃO E O ARREBOL



O pôr do sol é uma das visões que mais nos enche de emoção. Sorrimos, batemos palmas, nos abraçamos. Nossas energias parecem se encontrar quando o dia e a noite se cruzam. O admiramos como se fôssemos nós mesmos que estivéssemos ali, nos deparando com o motivo da nossa existência.


Quantos amores não surgiram no pôr do sol, seja aqui ou alhures? O calor do arrebol sobre o Corcovado ou a Pedra da Gávea, visto da Pedra do Arpoador, é algo que não esquecemos jamais.


Não importa se estamos no entorno da Igreja de Nossa Senhora de Nazaré, em Saquarema, no Estado do Rio de Janeiro, ou na Vila de Nazaré, em Portugal, a emoção é a mesma. A intensa energia que nos transmite nos mostra como o dia e a noite, os dois polos onde a luz e a escuridão se encontram e tornam belo, pelo menos para nós, poderia ser só um espetáculo acerca do fim de um e início do outro.


Ao contrário do que podemos imaginar, ali está a interseção do amor, da luz, da paixão. O dia se vai, porém, a noite o recebe de braços abertos, e a fusão de suas energias poderia ser chamada de paixão.


Queimam-se a energia do sol, aquecendo o frio da noite que vem. Os que assistem a tal espetáculo sentem-se nas mesmas condições. Quantos amores se entregam no aquecer do arrebol e se solidificam no arrebol da paixão.


Paixão, sol e lua se encontrando, se aquecendo, e se entregando no arrebol da paixão. Assim somos nós, nos entregamos no calor dos corpos, e que se transformará na passagem do dia para a noite no amor, que se repetirá todos os dias.


O amor é o dia a dia do sol e da lua, nasce, cresce e se encontra na metade do caminho das estrelas. A paixão é a chama que incendeia o amor, e quando suas chamas se abrandam, ficam as brasas, que, esse sim, são alimento que manterá o amor.


Quando se confunde chama com brasa, ou seja, amor com paixão o fim nem sempre será aquele que esperamos, porque amor é fogueira que se acende com gravetos, e que vai crescendo até chegará aos troncos e, estes sim, são os que manterão o amor. Quando enxergamos o amor como fruto de uma paixão, de um desejo, que teve seu início numa fusão de energias como a do dia e da noite, manteremos enquanto for possível a energia que deu início ao que chamamos por amor.


Quando esquecemos os preceitos que envolvem o desejo, a paixão, que descarregam no que chamamos de amor, fugimos dos ensinamentos da própria natureza.


Os arrebóis do Arpoador, da igreja de Nazaré em Saquarema ou na Vila de Nazaré em Portugal não terão valor algum porque naquele momento será somente o belo, e o belo não é o que desperta o amor e a paixão, a única coisa que pode despertar é o desejo, porém este não tem o poder da sedução, não dos corpos, e sim das energias que confluem a um só ritmo - a dos corações.


O belo é passageiro, o amor em todas as suas fases é duradouro. O arrebol é o amor, que se renova a cada dia dentro de nós. A natureza nos ensina que a cada momento o vento que sopra nas árvores muda o cenário a cada segundo.


É tempo de aprendermos que paixão e amor são chama que se transforma em brasa que nos aquecerão por toda a vida. Essa é a razão dos que amam, com a consciência de que seu início se deu na chama da entrega, da paixão.

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