Por mais que não consigamos associar um fenômeno da natureza à uma celebração religiosa, esta relação marca a Pessach, a Páscoa cristã e a Semana Santa, assim como os dias chamados profanos, o carnaval, há séculos.
Duas celebrações distintas têm na lua mãe[4] seu marco referencial. A Páscoa cristã e a Pessach entre os judeus. O equinócio da primavera é o marco para o início das liturgias. A Páscoa cristã ocorre no primeiro domingo “de” lua cheia “depois” do equinócio da primavera no hemisfério norte ou outono no sul.
As comemorações da Páscoa judaica, a Pessach, tem início na “primeira” lua cheia do mesmo equinócio. As celebrações estão associadas às tradições diferentes. A Pessach, em hebraico, significa “passagem” e remete-se à libertação dos hebreus, estando relacionada com a décima praga, a passagem do anjo da morte no Egito.
A Páscoa cristã está associada à crucificação e ressureição do filho de José e Maria, Jesus Cristo, sendo este o momento maior da fé cristã, quando o filho de Deus renasce, livre de todos os ressentimentos do homem pelo homem.
Qual o elo de união entre a Pessach e a Semana Santa terminando na Páscoa?
A dor, o sofrimento, a resiliência, a ressignificação. A pandemia, a morte, o desejo de libertação do povo hebraico. O sofrimento, a dor, a morte, a ressureição do filho de Deus. Unindo os dois à imagem da lua mãe, a lua cheia, a lua grávida, no momento maior do amor, o equinócio da primavera no hemisfério norte.
Lua Mãe, Lua Cheia, Lua Grávida nos remete a figura da mãe maior, Maria, a mãe de Jesus Cristo. Em hebraico, Maria está ligada ao sofrimento, às lamúrias e amarguras. No Cristianismo, ao sofrimento d’uma mãe por seu filho. Acredito não ser por acaso que a Lua Mãe seja o marco que interlaça estas duas celebrações.
O que vem logo a seguir da lua cheia, as trevas, a quarto minguante, no dizer dos místicos, a partir do terceiro dia da lua mãe, sua luz vai se esvaindo e mergulhamos na escuridão. Existe alguma associação com esta imagem e a da Pessach e da Páscoa? Não sei. As penitências, os jejuns, as ceras[5] e lamparinas acesas em profusão são um testemunho do quanto desejamos sair das nossas trevas.
Estamos em momentos difíceis, a epidemia, o anjo da morte que fez o povo hebraico procurar a liberdade, atravessando o Mar Vermelho, como se fosse um bumerangue, volta ao nosso encontro.
Os dias difíceis, da perseguição, da crucificação e da morte de Jesus Cristo se fazem presentes ao olhar de cada Maria que perde seus entes queridos.
Nestes dias onde a libertação, e a ressurreição são lembradas, o sentimento que está dentro de todos nós é o da grande lua, da lua mãe. Desejamos sua proteção, que sua luz nos envolva, desejamos atravessar nosso mar de incertezas. Que possamos enxergar no horizonte os caminhos que nos levarão a atravessar esses tempos sombrios.
Existem momentos comuns entre a Pessach e a Páscoa, o principal deles é a fé. A fé individual, a fé coletiva, a fé de um povo que sempre desejou ser livre, a fé de quem acredita na ressureição, na divindade de Jesus Cristo, do filho de Maria simbolizada pela grande lua, a lua mãe, a lua grávida, a que nos ilumina em qualquer situação.
Tempos difíceis! Difíceis tempos. Nuvens escuras! Escuras nuvens. Seja qual for a sua fonte de fé, todas elas nos remetem a acreditarmos na ressureição, não do corpo inerte pela morte física, mas de nós mesmos. Resinificaremos nossas relações com nosso interior e com o universo que está à nossa volta.
Sim, existe uma relação entre a Lua Mãe, a Pessach e a Páscoa e este elo tem um nome, a FÉ. Somos capazes de nos libertar, de renascermos de nós mesmos, de que temos a nos iluminar a luz de nossas mães, as nossas luas mães verdadeiras, nossas MARIAS em que momento estivermos.
Bom Pessach, Boa Páscoa. Sua bênção, Lua Mãe.
[1] Lua Mãe - Lua cheia.
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